Título: Alcoolduto de 1.150 km terá R$ 4,1 bi do PAC
Autor: Porto, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2007, Economia, p. B17

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve assinar, na próxima quinta-feira, protocolo de intenções para a construção do alcoolduto de 1.150 quilômetros que ligará Senador Canedo (GO) a Paulínia (SP). O documento será ratificado durante a visita de Lula à Expozebu, em Uberaba (MG), cidade que está na rota do duto, juntamente com Ribeirão Preto (SP).

A obra vai consumir parte dos R$ 4,1 bilhões previstos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para o setor de escoamento de álcool e deve garantir, por meio da interligação com o Porto de São Sebastião (SP), a exportação de 3,5 bilhões de litros de álcool por ano, a partir de 2011, de acordo com estimativas da Petrobrás.

Lula nem precisará voltar a reclamar dos empecilhos ambientais ou sociais ao fazer o anúncio da obra, já que ela está na faixa de domínio de um oleoduto já existente, o que, em tese, desobrigaria desapropriações ou estudos de impacto ao meio ambiente.

'Apesar de o anúncio ser feito em uma feira de pecuária, a região de Uberaba foi tomada pela cana-de-açúcar; além disso, estamos no meio do caminho do alcoolduto e receberemos representantes políticos dos três Estados beneficiados pelo projeto', disse o deputado federal Marcos Montes (DEM-MG), ex-prefeito da cidade mineira e presidente da Comissão da Agricultura da Câmara.

JAPÃO

Apesar do anúncio, o projeto do alcoolduto só deve sair do papel com a confirmação do governo japonês do início da importação de etanol brasileiro, a ser utilizado como combustível naquele país, o que pode ocorrer ainda este ano. Mesmo tendo as regiões de Ribeirão Preto e do Triângulo Mineiro como possíveis supridoras do combustível, os japoneses optaram por financiar a própria logística para garantir a produção do combustível.

O fornecimento do álcool exportado que passará pelo duto será da parceria entre Petrobrás, a trading japonesa Mitsui e o setor privado.

A parceria prevê a construção de 40 destilarias de álcool, a maioria no entorno entre a ponta e o meio do alcoolduto, em Goiás, Tocantins, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

A parceria prevê que a Mitsui financie a construção das destilarias, os usineiros entrem com a terra e com a cana-de-açúcar e a Petrobrás com a logística para o escoamento, ou seja, o alcoolduto.

O prestígio da estatal brasileira serviria, assim, para avalizar o negócio e ainda para garantir a produção, a logística de exportação e, principalmente, o lucro com a comercialização com combustível.

Os contratos de fornecimento de álcool para o Japão seriam por 20 anos e os orientais também se beneficiariam de projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL) para conseguirem créditos de carbono gerados pelas unidades produtoras. A FGV Projetos, consultoria da Fundação Getúlio Vargas (FGV), vai atuar como mediadora societária para determinar a participação dos usineiros e da Mitsui nas novas unidades.

Após o fechamento dos primeiros contratos, os japoneses deverão receber o combustível brasileiro em até dois anos, prazo necessário para a construção das unidades produtoras e do alcoolduto. Além da adição do etanol à gasolina nos veículos, os orientais utilizariam o etanol brasileiro para a substituição do gás natural usado em usinas termoelétricas.

Atualmente, a Petrobrás já exporta álcool para a Venezuela e Nigéria e, além do Japão, a estatal prevê iniciar o comércio do combustível com os Estados Unidos, Europa, África do Sul e China.