Título: Crescimento dos EUA é o menor em quatro anos
Autor: Caminoto, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2007, Economia, p. B10

O Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos cresceu 1,3% no primeiro trimestre, abaixo da expectativa dos analistas, de 1,8%. É a menor expansão desde os três primeiros meses de 2003, quando a economia avançou 1,2%. No quarto trimestre do ano passado, os EUA cresceram 2,5%.

O PIB do período foi prejudicado por desaceleração em variados segmentos, como gastos com consumo e investimentos fixos em imóveis. As transações internacionais e os estoques também tiveram peso desfavorável no resultado.

Como reflexo da crise imobiliária, os investimentos fixos em imóveis despencaram 17%, contribuindo para o tímido crescimento da economia em geral. Mesmo assim, a queda é menor do que a registrada no quarto trimestre do ano passado, quando os investimentos cederam 19,8%. Essa retração retirou 0,97 ponto porcentual do PIB. No quarto trimestre, a queda nos investimentos em imóveis havia retirado 1,21 ponto porcentual do PIB.

Os gastos com consumo, de maior peso no PIB (70%), cresceram 3,8% no primeiro trimestre, ante 4,2% no quarto trimestre, implicando contribuição menor no crescimento econômico (2,66 pontos porcentuais ante 2,93 pontos porcentuais no quarto trimestre).

O comércio internacional roubou 0,52 ponto porcentual do crescimento do PIB. As exportações cederam 1,2% e as importações aumentaram 2,3%. Os estoques voltaram a crescer menos no primeiro trimestre, subindo US$ 14,8 bilhões, abaixo da expansão de US$ 22,4 bilhões do quarto trimestre.

Os investimentos das empresas subiram 2% no primeiro trimestre; as vendas reais finais de produtos domésticos, que representam o PIB menos as variações nos estoques das empresas privadas, subiram à taxa anual de 1,6% no primeiro trimestre. Os gastos do governo federal caíram 3%, após alta de 4,6% no quarto trimestre.

EURO BATE RECORDE

Logo após a divulgação dos dados pelo Departamento de Comércio americano, o euro atingiu novo nível máximo ante o dólar no mercado de câmbio. A moeda européia chegou a ser cotada por US$ 1,3682 na máxima do dia. O recorde anterior, de US$ 1,3666, havia sido registrado em dezembro de 2004.

Para Peter Andersen, economista do banco Danske, o desaquecimento no ritmo de atividade elevou o risco de futuras ramificações negativas no mercado de trabalho americano, colocando sob pressão a taxa de desemprego. 'Isso aumenta a possibilidade de o Federal Reserve (o banco central do país) mover sua retórica para uma posição mais neutra no futuro próximo', disse o analista. 'Mas, diante da atual situação no mercado de trabalho, que continua vigoroso, e a inflação elevada, não vemos muito espaço para o Fed reduzir os juros neste ano.'

Andersen prevê que o desempenho do PIB no segundo trimestre continuará decepcionante, embora registrando uma pequena melhora, com um crescimento anual entre 2% e 2,5%. Segundo ele, no lado positivo, a desaceleração no setor imobiliário vai perder fôlego, os gastos das empresas vão continuar se normalizando e o setor industrial dará sinais de recuperação. 'O aspecto negativo na perspectiva do segundo trimestre está relacionado ao consumidor, que será afetado pelos preços mais elevados da gasolina.'

Jean-Marc Lucas, economista do banco BNP Paribas, destacou a forte queda do investimento em residências. 'Essa correção presumivelmente ainda não atingiu sua fase final ainda', disse. 'De outro lado, o consumo continua robusto.' Para Lucas, o Fed deve começar a cortar os juros a partir do segundo semestre.