Título: Chávez intima siderúrgica a fornecer aço a preço mais baixo
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/05/2007, Internacional, p. A12
O presidente venezuelano Hugo Chávez intensificou ontem sua ofensiva contra o grupo argentino Techint, que controla a maior siderúrgica do país, Sidor, a qual na semana passada ameaçou nacionalizar. Com seu estilo direto, Chávez anunciou que ¿mandou chamar¿ o empresário argentino Paolo Rocca - presidente do grupo e reconhecido como um dos poucos empreendedores da Argentina - para ameaçá-lo.
Chávez não teve sutilezas durante uma coletiva em Caracas, na qual indicou o teor da conversa que pretende ter com o empresário. ¿Vou dizer assim ao Rocca: `Vamos fazer uma lei e obrigá-lo a fornecer primeiro o aço venezuelano ao mercado nacional antes que você o leve a outros países. Se você estiver de acordo, acabou; se não estiver, eu pego essa empresa. Me dá essa empresa e eu pago o que custar, pois não vou te roubar¿.¿
Chávez acusa a Sidor, empresa siderúrgica privatizada em 1997, de destinar a maior parte da produção para exportações fora da Venezuela. Isso, segundo Chávez, forçaria as empresas venezuelanas a comprar aço da China a preços elevados.
O controle da siderúrgica está nas mãos do Consórcio Amazônia, que possui 60% das ações da Sidor. Outros 20% estão nas mãos do Estado venezuelano. Os restantes 20% pertencem aos funcionários da Sidor. O Consórcio Amazônia, por seu lado, é controlado pela Ternium, holding dominado pela Techint, no qual a brasileira Usiminas participa com 16,6% das ações.
Os analistas destacam que a ofensiva contra a multinacional argentina ocorre de forma simultânea ao recente choque entre o governo do presidente Néstor Kirchner - amigo de Chávez, de quem depende para vender os títulos da dívida pública argentina (Chávez tornou-se seu principal comprador ) - e a Techint.
Chávez vem pressionando a Sidor, subsidiária da Techint, desde outubro de 2005. Na época, o venezuelano reclamava que a empresa estava pagando baixos preços pelo minério de ferro produzido pela empresa Ferrominera. Chávez também afirmou que a privatização da Sidor havia sido ¿nefasta¿. Um mês mais tarde - depois de negociações que contaram com a participação do governo Kirchner -, a Sidor aceitou elevar o preço, que subiu consideravelmente.
No início deste ano, Chávez voltou a disparar contra a Techint. No entanto, em fevereiro, Kirchner, durante uma visita ao venezuelano, conseguiu colocar panos quentes no ânimo exaltado de Chávez.
Desde então, a relação de Kirchner com a Techint esfriou. A Casa Rosada suspeita que a multinacional simpatiza com o ex-ministro da Economia Roberto Lavagna - um dos candidatos da oposição às eleições presidenciais de outubro que mais irritação causam em Kirchner. A teoria que circula na city financeira portenha é de que a ameaça à Sidor representa uma manobra conjunta Chávez-Kirchner para castigar a multinacional.
Para complicar, a Technint foi arrastada para o escândalo Skanska - uma investigação da Justiça sobre evasão tributária e pagamento de subornos cujo foco é a empresa sueca Skanska, que participa da ampliação de gasodutos na Argentina. As obras são comandadas pela Techint. O escândalo transformou-se no maior caso de corrupção surgido no governo Kirchner.
As suspeitas direcionam-se contra o ministro do Planejamento, Julio De Vido, braço-direito de Kirchner. O governo, no início, tentou negar a existência de corrupção. Mas, diante das provas que começavam a aparecer, passou a colocar a culpa dos subornos nas empresas que participavam das obras. Há duas semanas, o governo tentou vender a versão de que se tratava de um caso de corrupção entre empresas privadas, citando textualmente a Techint. No entanto, documentos apresentados pela mídia argentina comprovam que a versão foi uma manobra do governo para desvincular-se dos subornos.