Título: Chávez, agora, ameaça bancos e a maior siderúrgica venezuelana
Autor: Lameirinhas, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2007, Internacional, p. A12

Em mais uma demonstração de seu estilo impulsivo, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, ameaçou ontem nacionalizar os bancos privados e a maior siderúrgica do país, a Sidor (Siderúrgica del Orinoco) - administrada por um consórcio do qual participam companhias da Argentina, México, Venezuela e a brasileira Usiminas. As ameaçadoras declarações de Chávez foram feitas durante a inauguração de uma empresa metalúrgica cooperativada que deve concorrer com a Sidor no fornecimento de tubos metálicos para a indústria petrolífera. Nenhum porta-voz da Usiminas foi localizado ontem para comentar as declarações de Chávez.

¿Tenho a esperança de que venezuelanos e estrangeiros que estão aqui, na direção de instituições como essas - bancárias ou empresas de produção de aço como a Sidor -, entendam a mensagem¿, discursou Chávez. ¿Os bancos privados têm de dar prioridade ao financiamento a baixo custo dos setores industriais venezuelanos. Se não quiserem cumprir com isso, é melhor que se vão, que nos entreguem os bancos. Nós os nacionalizaremos e colocaremos todo o sistema bancário para trabalhar pelo desenvolvimento integral de nosso país e não para especular e produzir grandes lucros.¿

Quanto à Sidor, Chávez a acusou de formar um cartel para monopolizar o fornecimento - a preços mais altos que os do mercado internacional - de aço para a indústria do petróleo. ¿A Sidor tem de dar preferência às empresas nacionais e, além disso, a baixo custo¿, afirmou.

Como conseqüência imediata das declarações, as ações da siderúrgica despencaram na Bolsa de Caracas. Ao mesmo tempo, controladores dos bancos privados passaram a pedir calma aos investidores e correntistas, temendo uma onda de saques que abalaria todo o sistema bancário do país - posto em alerta desde domingo à noite, quando o presidente anunciou que a Venezuela se retiraria do FMI, qualificado por ele de ¿uma instituição capitalista a serviço de Washington¿.

¿É claro que quando se trata de Chávez, cuja sede de concentrar de poderes parece não saciar-se nunca, nenhuma ameaça pode ser desprezada¿, declarou ao Estado, por telefone, o analista e historiador venezuelano Manuel Caballero. ¿Acredito que, com o vigor financeiro decorrente do preço internacional do petróleo, Chávez tem capacidade econômica para fazer o que lhe dá na cabeça.¿

Caballero, no entanto, compara a estratégia de Chávez à de um jogo de bocha - cujo objetivo é lançar as bolas maiores de modo que elas se aproximem ao máximo da bola pequena, sem necessariamente tocá-la. ¿Ele tem o hábito de assediar, de pressionar sempre¿, disse o professor. ¿Talvez tenha mesmo o interesse em arrebentar um ou dois bancos, mas sua finalidade real é mostrar a todas as outras instituições que ele tem o poder de agir contra elas e pode agir a qualquer momento.¿

No discurso de ontem, Chávez deixou claro esse assédio. ¿Várias vezes já falamos do caso Sidor. Muitos pedem para simplesmente nacionalizá-la. E eu respondo que há ali capital latino-americano, que vamos conversar. Ali há dinheiro argentino, brasileiro. Vamos ver se se comportam de forma diferente à das transnacionais¿, disse Chávez. ¿Eu não engano ninguém. Repeti um milhão de vezes por todos os cantos da Venezuela: vamos na direção do socialismo. Fui eleito com mais de 63% dos votos. Assim, quem votou por mim votou pelo socialismo, e é para lá que vamos. Espero que todos entendam e colaborem na construção desse socialismo do século 21.¿

Depois de eleito, Chávez obteve da Assembléia Nacional - composta apenas por deputados que o apóiam - o poder de governar por decreto, com base na chamada ¿Lei Habilitante¿. Desde então, já nacionalizou as companhias de telefonia e eletricidade, além de todo o setor petrolífero. Ao mesmo tempo, ameaçou estatizar escolas e hospitais particulares e expropriar empresas atacadistas que especulem com o preço de alimentos.

MEDIDAS CHAVISTAS

8/1: Chávez anuncia nacionalização de setores elétrico e telefônico

30/1: Assembléia aprova Lei Habilitante, que garante ao presidente venezuelano o direito de governar por decreto por 18 meses

23/3: Formaliza a criação do Partido Socialista Unido da Venezuela, que integrará todas as legendas de esquerda do país

9/4: Estado venezuelano lança oferta pública de aquisição sobre a maioria das ações das empresas americanas Eletricidade de Caracas e Cantv, de telefonia

20/4: Anuncia intenção de sair do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial

22/4: Anuncia a criação da empresa estatal Corporação Elétrica da Venezuela, para integrar todas as empresas elétricas públicas

1/5: Nacionaliza oficialmente quatro grandes projetos petrolíferos privados na Bacia do Rio Orinoco. Até 26 de junho, os sócios da estatal venezuelana PDVSA têm de negociar sua participação nas empresas mistas, das quais a estatal deterá pelo menos 60% das ações

3/5: Anuncia preparação de lei que pune com nacionalização os bancos privados que não dêem prioridade ao financiamento de produtores nacionais.