Título: Moderado, D. Geraldo Lyrio é eleito presidente da CNBB
Autor: Mayrink, José Maria
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2007, Vida&, p. A16
O arcebispo nomeado de Mariana (MG), d. Geraldo Lyrio Rocha, de 65 anos, é o novo presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Ele foi eleito ontem com 255 votos - ou 92,4% dos 276 votos válidos - na 45ª Assembléia-Geral do episcopado em Itaici, no município paulista de Indaiatuba.
Para vice-presidente, os bispos escolheram o arcebispo de Manaus (AM), d. Luiz Soares Vieira, de 70 anos, que obteve 219 dos 273 votos válidos. O secretário-geral, cargo executivo da presidência colegiada, será eleito hoje. Os nomes mais cotados são os dos bispos auxiliares d. Dimas Lara Barbosa (Rio) e d. Pedro Luiz Stringhini (São Paulo).
¿Assumir a presidência da CNBB não é assumir um cargo, um poder, é assumir um serviço à Igreja, ao Reino de Deus, ao Evangelho, aos irmãos e irmãs, aos que crêem e aos que não crêem, aos pequenos, aos pobres, aos que sofrem, aos que estão caídos no meio do caminho, aos excluídos do banquete da vida¿, afirmou d. Geraldo Lyrio, em sua primeira declaração à imprensa.
O novo presidente da CNBB, que tomará posse no dia 9, em substituição ao cardeal d. Geraldo Majella Agnelo, arcebispo de Salvador (BA) e primaz do Brasil, definiu-se como um homem aberto ao diálogo. Sobre a relação da Igreja com o governo, ele disse estar sempre disponível para conversar com todos.
¿Não fecho as portas a ninguém. Estou sempre disposto a acolher, mas também tenho simplicidade para dizer sim e para dizer não. Vai ser um diálogo aberto, respeitoso, construtivo, livre, para acolher críticas e para criticar, quando for preciso. Vai ser uma continuidade do que a CNBB tem feito ao longo de sua história, até mesmo nos momentos mais difíceis, como a ditadura militar¿, anunciou d. Geraldo Lyrio.
O novo presidente da CNBB promete manter ¿a legítima autonomia da Igreja, para que ela possa exercer com liberdade a sua missão e não omitir compromissos¿. A fome é, em sua avaliação, o maior desafio que os bispos enfrentam em sua ação pastoral. ¿A fome e a miséria que eu vejo no interior da Bahia, e que estão presentes em outras regiões, me cortam o coração, porque não se pode entender que haja tanta pobreza num país tão rico¿, afirmou.
Transferido da arquidiocese de Vitória da Conquista (BA), d. Geraldo Lyrio tomará posse em Mariana no dia 23 de junho. Até lá, ele se ocupará de outros compromissos. Vai acompanhar a visita do papa Bento XVI na próxima semana e participar, como vice-presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), da 5ª Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, que se reunirá em Aparecida (SP), de 13 a 31 de maio.
BEATIFICAÇÃO DE D. LUCIANO
Em resposta a um jornalista, d. Geraldo Lyrio disse, confirmando o que já havia publicado o Estado, que espera, no prazo de cinco anos, abrir a causa de beatificação de d. Luciano Mendes de Almeida, falecido em agosto do ano passado. ¿Sem dúvida, d. Luciano está sendo venerado como um santo por muitos de nós¿, disse d. Geraldo Lyrio. Ex-arcebispo de Mariana, d. Luciano foi também secretário-geral e presidente da CNBB, durante 18 anos.
A escolha de d. Geraldo Lyrio era esperada, mas foi uma surpresa sua eleição por uma quase unanimidade de votos. Os candidatos mais votados, depois dele, foram, com seis votos, o cardeal Geraldo Majella Agnelo, que chega ao final de quatro anos de mandato como presidente, e o arcebispo de Belo Horizonte (MG), d. Walmor Oliveira de Azevedo, com três. O arcebispo de São Paulo, d. Odilo Pedro Scherer, até agora secretário-geral da CNBB, teve dois votos.
Avançado nas propostas e cauteloso na sua execução, d. Geraldo Lyrio é descrito por outros bispos e por assessores do episcopado como um homem moderado e afável. Sua eleição já em primeiro escrutínio é demonstração do bom trânsito que tem em todas as áreas. Ele não havia ocupado até agora nenhum cargo executivo na direção da CNBB, mas foi responsável pelo setor de Liturgia em dois períodos, entre 1995 e 2003.
QUEM É
Formação: Nascido em Fundão (ES), em 14 de março de 1942, estudou Filosofia em Belo Horizonte e Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma. Tem mestrado em Filosofia e especialização em Liturgia
Docência: Foi coordenador de Pastoral da Arquidiocese de Vitória (ES), professor de Liturgia e de Teologia no Instituto de Filosofia e Teologia de Vitória , e de Filosofia na Universidade Federal do Espírito Santo
Ordenação: Ordenado sacerdote em 1967 e bispo em 1984, foi auxiliar da Arquidiocese de Vitória, bispo de Colatina (ES) e arcebispo de Vitória da Conquista (BA), antes de ser transferido para Mariana (MG).