Título: Estatal corre para não depender do gás boliviano
Autor: Brito, Agnaldo
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2007, Economia, p. B7

Uma missão de executivos da Petrobrás vai ao Catar, a Trinidad & Tobago e à Argélia, na próxima semana, para visitar projetos de Gás Natural Liquefeito (GNL) em busca de novos fornecedores. A iniciativa faz parte do esforço da estatal para reduzir a dependência brasileira da Bolívia no abastecimento de gás.

Recentemente, a companhia assinou contrato com a empresa Nigerian LNG para fornecimento do combustível a partir de 2009. O gás virá para duas plantas de regaseificação a serem instaladas no Rio e Ceará.

Ontem, após concluir a sua participação da Offshore Technology Conference, em Houston (EUA), o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, acompanhado de dois diretores, visitou instalações de regaseificação na costa do Golfo Americano.

Segundo ele, diferentemente do que deverá o correr na próxima semana, a visita não visava a fechar negócios, mas apenas a um contato maior com esse tipo de tecnologia.

A Petrobrás tem tido dificuldade de negociar contratos de suprimento de GNL com fornecedores internacionais porque, enquanto eles preferem contratos firmes, a demanda no Brasil será variável. 'Há uma dificuldade filosófica, o fato de termos demanda esporádica, porque varia com o despacho termoelétrico; isso cria dificuldades para negociar contratos', disse ontem, no Rio, o gerente-executivo de Operações e Participações em Energia da empresa, Fernando Cunha.

A insegurança com o abastecimento de gás natural pela Bolívia - que hoje responde por 27 milhões de metros cúbicos dos 45 milhões consumidos pelo Brasil - está levando a Petrobrás a buscar alternativas de suprimento e de tecnologia.

Em palestra na Câmara Britânica (Britcham) no Rio, Cunha sublinhou que as providências que a empresa está tomando incluem o afretamento de navios - como os que a empresa contratou na Espanha, na semana passada - e também contratos de suprimento.

O executivo explicou que, além da demanda variável no Brasil, as negociações esbarram também no fato de que há uma busca grande por GNL no mundo, incluindo a demanda dos Estados Unidos, e o volume mundial a ser contratado é grande e firme, o que causa desinteresse pelas conversas com a Petrobrás.

Cunha disse também que a Petrobrás estuda, ainda de maneira muito preliminar, instalar novos pontos de recepção de GNL em São Luiz (MA), Aratu (BA), Suape (PE) e São Francisco (SC). Além disso, a empresa estuda uma área internacional para esse fim no Uruguai.

TECNOLOGIA

O executivo explicou que a Petrobrás também está concentrada em desenvolver tecnologias alternativas ao gás natural para abastecer as termoelétricas, que possam vir a ser utilizadas em situações de emergência. Segundo ele, em agosto a empresa começará a operar experimentalmente uma turbina a gás com uso de etanol na usina Barbosa Lima Sobrinho, em Seropédica (RJ).

'A área de gás e energia da Petrobrás estuda, de forma intensa e ativa, tecnologias para aumentar o potencial das plantas e agregar megawatts', disse. A empresa também avalia o uso de coque do petróleo nas térmicas. Com a ampliação das refinarias da Petrobrás, a produção de coque deverá passar de 2 milhões para 4 milhões de toneladas até 2010.

FRASES Fernando Cunha

Gerente de Operações e Participações em Energia da Petrobrás

'A área de gás e energia da Petrobrás estuda, de forma intensa e ativa, tecnologias para aumentar o potencial das plantas e agregar megawatts'

'Há uma dificuldade filosófica, o fato de termos demanda esporádica, porque varia de acordo com o despacho termoelétrico; isso cria dificuldades para negociar contratos'