Título: Republicanos buscam um novo Reagan
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2007, Internacional, p. A23

Na quinta-feira, os dez candidatos republicanos à presidência dos EUA se reuniram pela primeira vez para debater na TV. A discussão foi tão sem graça, que já tem gente chamando o debate de a 'batalha dos dez anões'. O único destaque entre os anêmicos debatedores foi um político que já morreu, o ex-presidente Ronald Reagan. Todos trataram de evocar o grande Reagan de alguma maneira e evitar menções ao atual presidente, George W. Bush.

Sem nenhum candidato que empolgue o eleitorado conservador, o Partido Republicano está em busca de um novo Reagan. Tomados por um surto de sebastianismo, muitos republicanos anseiam pela volta dos anos dourados da era Reagan. Querem esquecer a surra que tomaram nas urnas, nas eleições legislativas de novembro.

O salvador pode ser Fred Thompson, na opinião de analistas. Ex-senador pelo Tennessee, Thompson é mais conhecido como o promotor público do Law&Order, seriado de TV visto semanalmente por 10 milhões de pessoas nos EUA - e outros países, como o Brasil.

Ator, conservador de carteirinha e carismático, Thompson se tornou a maior promessa de Ronald Reagan versão 2008. O ex-senador ainda não anunciou sua candidatura e já está em terceiro lugar nas pesquisas, com 14%, atrás do ex-prefeito de Nova York Rudy Giuliani (27%) e do senador e herói do Vietnã John McCain (19%), mas à frente do ex-governador de Massachusetts, Mitt Romney (8%).

O fato de um político que ainda não anunciou sua candidatura estar em terceiro lugar nas pesquisas mostra a insatisfação dos eleitores republicanos com seus candidatos atuais. Segundo pesquisa de Wall Street Journal/NBC News do fim de abril, 78% dos eleitores democratas estão satisfeitos com seus candidatos, enquanto apenas 53% dos eleitores republicanos estão felizes com os seus.

A arrecadação de recursos é outro sinal de falta de entusiasmo. Mitt Romney, o principal arrecadador entre os republicanos, obteve US$ 23 milhões; Giuliani, US$ 16 milhões; e McCain, US$ 13 milhões. Entre os democratas, Hillary Clinton levantou US$ 36 milhões; Barack Obama, US$ 25 milhões; e John Edwards, US$ 14 milhões para suas campanhas.

'A disputa ainda está longe de estar resolvida - o Partido Republicano não tem nenhum candidato que não tenha desvantagens importantes', diz Chip Felkel, estrategista do partido.

APELO

Nenhum dos atuais postulantes republicanos é considerado ideal. O senador McCain começou liderando a corrida, impelido por sua aura de herói do Vietnã e seu histórico de independência. Mas seu apoio obstinado - ou para alguns, suicida - à guerra do Iraque custou-lhe muitos votos em potencial. E os conservadores de linha dura torcem o nariz para algumas de suas posições.

Giuliani tem o apelo de super-herói do 11 de Setembro, que o está mantendo no topo das pesquisas. Mas para os conservadores de raiz, aqueles que realmente decidem a indicação nas primárias, as posições pró-aborto, pró-casamento gay e em favor do controle de armas de Giuliani são difíceis de engolir.

E Mitt Romney, finalmente, é bonitão, articulado e provou ser ótimo administrador quando recuperou as Olimpíadas de Inverno de Salt Lake City. Mas Romney é mórmon, o que pode desanimar alguns eleitores. E é visto como volúvel - quando governador do Massachusetts, defendia aborto e pesquisas de célula-tronco - agora , é um vigoroso defensor da vida no útero. Romney também é dado a incontinências verbais. Para fazer média com os entusiastas bélicos da National Rifle Association, ele afirmou que era um 'caçador de vida inteira'. Depois, quando revelaram que ele nunca teve uma licença de caçador, Romney tentou consertar, dizendo que caçava 'apenas roedores e coelhos', e de vez em quando.

'Acho que Fred Thompson poderia ser o candidato capaz de conquistar uma parcela mais ampla de eleitores republicanos', acredita o estrategista Felkel.

Do alto de seu 1,98m de altura, dono de voz tonitruante, Thompson tem histórico impecável nas questões caras aos conservadores. Ele é contra o direito ao aborto, contra o controle de armas e o casamento gay. Também é adepto de Reaganomics - contra impostos e contra a intervenção do governo na economia.

O ator-senador entrou na vida pública nos anos 70, quando foi conselheiro jurídico dos republicanos no comitê do caso Watergate. Mais tarde, foi advogado de um caso que se tornou famoso no Tennessee e foi transformado em filme - e Thompson foi convidado para interpretar ele mesmo no filme, Marie, estrelado por Sissy Spacek. Foi assim que entrou na vida artística.Foi eleito em 1994 no Senado para o lugar de Al Gore, que foi para vice-presidência.

Em 2002, estava concorrendo à reeleição, mas desistiu depois que sua filha morreu de uma overdose acidental de remédios.

'Ele precisa decidir logo para recuperar tempo perdido em arrecadação de recursos e estruturação da campanha', diz Felkel. O ator já mencionou em vários programas de TV que está interessado em se candidatar e deve decidir no próximo mês.

Se resolver não concorrer à presidência, Thompson poderá se conformar com Hollywood. Ele vai ser o presidente dos EUA num filme que a HBO vai lançar em breve - interpretará o presidente Ulysses Grant num filme sobre índios americanos. Já os eleitores republicanos terão de se empolgar com os candidatos que já estão aí.