Título: 'Há muita hipocrisia', diz deputado
Autor: Leal, Luciana Nunes
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2007, Metrópole, p. C3

No Congresso, mesmo não estando à vista nenhuma decisão, as opiniões sobre os bingos jogam nos extremos. O pedetista Pompeo de Mattos (RS), que reuniu em uma única proposta a criação de uma loteria municipal nos moldes do jogo do bicho e a legalização dos bingos, diz que há 'um clima de muita hipocrisia' no Congresso. 'Enquanto não houver transparência, haverá políticos, policiais e agora juízes por trás dos jogos ilegais', diz. O deputado gaúcho conta que é aconselhado a não insistir em projetos como o dele. 'Dizem que vão pensar que faço parte do esquema. Nenhum empresário de jogo me procurou, mas eu defendo a legalização, com pagamento de impostos altos, como ocorre com as casas finas de prostituição.'

Também gaúcho, o deputado Júlio Redecker (PSDB) apresentou projeto em 2004 para legalizar os bingos. Tem uma opinião próxima à de Mattos: 'Tudo que funciona à margem do Estado privilegia a malandragem'. Ele diz que não tem opinião formada sobre o jogo do bicho, mas está convencido de que é preciso encontrar uma saída para a contravenção. 'Sobrevive na penumbra da lei. Ou se coíbe de uma vez ou se regulamenta a atividade', afirma o deputado.

No outro extremo, estão deputados como Antônio Carlos Mendes Thame (PSDB-SP), que fez da proibição dos bingos uma das bandeiras de sua atuação parlamentar, mas também não vê a discussão avançar. 'Essa atividade (exploração de bingos), diferentemente das loterias oficiais exploradas pela Caixa Econômica Federal, em nada contribui para a minoração das nossas carências sociais, tendo servido, até agora, apenas como instrumento para a lavagem de dinheiro, sonegação de impostos e desagregação familiar', diz, na justificativa de seu projeto de lei.

O deputado Antônio Carlos Pannunzio (PSDB-SP), líder dos tucanos na Câmara, está certo de que o País não tem nada a perder com a proibição dos bingos e, em seu projeto de lei, apresentado poucos dias depois de estourar o escândalo Waldomiro Diniz (fevereiro de 2004), argumenta que o jogo, além de provocar 'a ruína financeira de muitas famílias', é um caminho aberto para a lavagem de dinheiro.

SENADORES

No Senado, o petebista Mozarildo Cavalcanti (RR) não só propôs a legalização dos bingos, como a dos cassinos, em cidades turísticas da Amazônia, do Centro-Oeste e do Pantanal. Seus projetos aguardam parecer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde a regra geral tem sido a de não ter pressa para tratar de temas relacionados a jogos de azar.

O senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), ex-relator da CPI dos Bingos, que funcionou entre 2005 e 2006 no Congresso, avalia que o maior avanço saiu da Comissão Parlamentar de Inquérito. 'Avançou bem o projeto que regulamenta as loterias estaduais, desde que autorizadas pela Caixa Econômica Federal', disse. O projeto, aprovado no Senado, ainda aguarda parecer nas comissões.