Título: Economistas querem corte de juro, de gasto e de tarifa. Governo resiste
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2007, Economia, p. B4

Os economistas mais liberais recomendam, mas aparentemente não há a menor chance de o governo acatar: duas opções para aliviar a valorização do real são a redução das tarifas de importação e o corte dos gastos públicos.

Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central (BC), considera que aquelas medidas, aliadas à uma intensificação no ritmo de redução da Selic (taxa básica de juros), formam a trinca de instrumentos que o País tem 'não para solucionar um problema, mas sim para aproveitar a atual situação e produzir boas conseqüências'.

A redução de tarifas é uma alternativa de efeitos mais óbvios para conter a valorização cambial, já que significa aumentar as importações e reduzir o superávit comercial, a principal fonte de entrada de recursos externos no País. Ilan Goldfajn, sócio da Ciano Investimento e ex-diretor do BC, nota que medidas recentes do governo, como a elevação de 20% para 35% da alíquota de importação de calçados e confecções, vão no sentido contrário ao daquela recomendação.

Pastore é favorável a uma redução geral da estrutura tarifária, mas especialmente das que incidem sobre bens de capital e matérias-primas. 'Existe uma correlação estreitíssima entre a formação bruta de capital fixo (investimento) e a importação, então é uma medida absolutamente lógica para incentivar os investimentos.'

A relação entre os gastos do governo e a valorização do câmbio é um pouco mais complexa, mas é um ponto no qual muitos economistas vêm insistindo. A demanda do governo é muito mais direcionada para o setor de serviços, o que inflaciona os custos de se produzir no País, quando comparados com o preço dos produtos comercializáveis no exterior, que podem ser exportados. Encarecer o custo de produzir exportações é equivalente a valorizar o câmbio.

INTERVENÇÃO

Dada a pouca disposição do governo em agir na área fiscal ou tarifária, e os riscos de uma redução muito drástica da Selic, muitos economistas acham que o BC tem mesmo de continuar a comprar reservas, apesar dos custos da diferença entre a rentabilidade das aplicações em dólar e da dívida em reais que financia as intervenções.

'Sou a favor da acumulação de reservas e da suavização da trajetória do câmbio, porque não acredito que esse momento (de fortíssima pressão de valorização do real) seja permanente', diz Goldfajn. Segundo o seu raciocínio, o BC só deveria deixar o real se valorizar até bem menos de R$ 2 se tivesse convicção de que a atual maré avassaladora de entrada de dólares é um fenômeno permanente ou muito duradouro.

Para Goldfajn, porém, o movimento está ligado a um momento de otimismo desenfreado nos mercados globais, que pode ser revertido a curto ou médio prazos. Ele nota que a entrada de dólares de US$ 10,7 bilhões no Brasil em abril significa um ritmo anual de quase US$ 130 bilhões. 'Não está sobrando tudo isso no balanço de pagamentos', diz Goldfajn.

Beny Parnes, diretor-executivo do BBM e ex-diretor do BC, nota que existe um risco quando o BC opta por 'suavizar' um movimento natural do mercado. 'No momento em que o mercado vê que o BC está tentando ganhar tempo, isso cria um fluxo, as pessoas vendem mais porque sabem que o BC estará comprando.'