Título: Sobra desânimo nas casas de câmbio
Autor: Dantas, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2007, Economia, p. B6

Os telefones tocam sem parar nas casas de câmbio no centro de São Paulo, mas quase todas estão vazias. A queda acentuada do dólar ante o real não ajudou o movimento a melhorar nas últimas semanas.

'Recebo telefonemas o dia todo porque muitas pessoas têm dúvidas se devem comprar ou vender dólares neste momento. Mas estamos às moscas ', resume um funcionário da Mandeltur, na avenida São Luís, região central de São Paulo.

'Quem vai comprar dólares para uma viagem futura fica esperando a cotação cair mais. Quem tem interesse em vender está na expectativa de uma alta para não perder dinheiro', diz um funcionário de outra loja da região, que prefere não se identificar, e negociava a venda da moeda americana por R$ 2,06 na sexta-feira.

No meio da tarde do mesmo dia, na One, outra operadora de câmbio, apenas um cliente trocava euros para um amigo estrangeiro. Na Amoretour, uma agência de viagens, o funcionário Antonio de Castro confirmava que o mercado de moeda estava parado.

'Essa instabilidade do câmbio deixa as pessoas inseguras', diz. Segundo ele, há dois anos o movimento de venda e compra de dólares vem caindo. 'Está tudo travado e às vezes não faço mais do que duas operações num dia inteiro. Os tempos dos bons negócios, lembra, das filas para comprar ou vender dólares quando a economia estava instável estão longe. Em 1998, por exemplo, a crise nas bolsas, a disparada nos juros e a insegurança em relação ao futuro provocaram um grande movimento nas casas de câmbio.

'Hoje as pessoas só ligam para perguntar o que vai acontecer com o câmbio e para se queixar', diz. 'Outro dia uma viúva de 78 anos telefonou aflita porque reforçava sua pensão com alguns dólares deixados pelo marido. Não sabia o que fazer.'

Cristina Françozo, gerente de uma pequena operadora de câmbio e viagens, dizia que o entusiasmo de clientes dispostos a fazer turismo com o dólar mais baixo é relativo. 'Eles perguntam preços, mas quando fazem a conversão para o real, dizem que vão pensar melhor.' Ela conta que foi procurada por uma família de quatro pessoas que imaginava gastar no máximo R$ 12 mil numa viagem à Argentina. 'Mas, quando viram que mesmo com o dólar favorável, o gasto seria de R$ 15 mil, ficaram em dúvida.'

O clima de baixo astral nas casas de câmbio não vem de hoje. Desde o ano passado, várias delas acusadas de envolvimento em fraudes estão sendo investigadas.