Título: Petrobrás gasta US$ 6 bi em plataformas
Autor: Lima, Kelly
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2007, Economia, p. B10

A corrida da Petrobrás para cumprir sua ambiciosa meta de duplicar a produção de petróleo até 2015, além da preocupação em atender a demanda por gás no País, colocou a estatal no primeiro lugar da lista de empresas compradoras de plataformas de exploração e produção de petróleo no mundo nos próximos anos.

Ela adotou, porém, uma estratégia conflitante com a proposta inicial do governo, que previa a predominância de componentes nacionais no setor. A Petrobrás vem recorrendo a afretamentos para poder construir no exterior equipamentos necessários a toque de caixa.

A estatal já afretou, ou está contratando, 12 plataformas no mercado internacional, considerando 12 meses. Os valores totais ficam em torno de US$ 500 milhões para cada plataforma, o que resulta num volume de cerca de US$ 6 bilhões.

O recurso dribla a falta de capacidade física dos estaleiros nacionais de atenderem à enorme demanda da Petrobrás, sem deixar claro a mudança de foco da política defendida pelo governo. Na prática, apenas duas plataformas, a P-51 e a P-52, que tiveram seu processo licitatório iniciado e interrompido antes da atual gestão, foram contratadas no País desde 2003.

Indagado sobre essa opção, o diretor de Exploração e Produção da estatal, Guilherme Estrella, afirmou que se trata de uma forma de antecipar projetos que demorariam muito para entrar em produção. Ele lembra, no entanto, que a Petrobrás tem um extenso planejamento para a construção de unidades no País com elevado conteúdo nacional, como é o caso das plataformas P-56 e P-57, que estão com suas licitações na rua, e a P-55, que deve ter seu processo licitatório lançado nas próximas semanas.

Essas unidades estão contabilizadas em estudo da consultoria britânica Douglas Westwood, que mostra que a Petrobrás lidera a demanda no aquecido mercado de compra de plataformas de petróleo. O levantamento identifica que até 2011 serão construídos 120 equipamentos desse tipo.A Petrobrás é a primeira na lista de compradores, seguida das gigantes mundiais Total (França), Chevron (EUA), Shell (anglo-holandesa) e BP (Inglaterra).

O levantamento foi apresentado esta semana durante a Offshore Technology Conference - maior conferência do setor, realizada anualmente em Houston, Texas (EUA) - e contabiliza 13 plataformas para a estatal brasileira, um volume subestimado, pois ainda não considera os equipamentos que devem ser incluídos na revisão do planejamento estratégico, previsto para maio.

O volume de recursos apontado pela consultoria é também conservador: US$ 38 bilhões até 2011, sendo que ao Brasil caberiam US$ 9 bilhões, quase a mesma cifra de instalação de equipamentos das mais diversas empresas em todo o território africano, uma das áreas mais promissoras na exploração de petróleo da atualidade. 'Pode ser considerado conservador porque os sistemas brasileiros e africanos, por exemplo, são de porte maior e por isso custam acima de US$ 1 bilhão', disse um especialista do setor.

Na tentativa de reduzir os preços das unidades, a Petrobrás também está adotando estratégias diferenciadas. Simplificou, por exemplo, o processo de licitação das plataformas P-55 e P-57, que tiveram propostas com preços muito elevadas num primeiro momento. 'Sabemos que é mais complicado para um estaleiro construir uma unidade com inovações tecnológicas do que um projeto já existente. Portanto, adotamos a estratégia de simplificar ao máximo nossos projetos para correr contra o tempo', argumentou o diretor da Área de Serviços da Petrobrás, Renato Duque.

Uma nova alternativa inédita também para reduzir custos tem sido estudada pela diretoria da estatal. Trata-se da encomenda de plataformas do tipo Tension Leg (TLPs), que dispensam linhas flexíveis para conectar-se ao poço de petróleo e ainda possuem uma sonda de perfuração acoplada.