Título: 'O avanço da China é bom para a economia brasileira'
Autor: Grinbaum, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2007, Economia, p. B18

Nascido no Chile, Pedro Videla é doutor em economia pela Universidade de Chicago e é professor de Economia do IESE, escola de negócios da Universidade de Navarra, na Espanha, eleita a melhor escola de negócios do mundo em programas MBA pela The Economist Intelligence Unit (EIU). Como professor de programas para dirigentes de empresas, Videla dá cursos em vários países, do Brasil à Índia e China.

Especializado em economia internacional e países emergentes, consultor do Banco Mundial e do FMI, Videla tem um ponto de vista claro sobre o avanço da China: ele diz que a maioria dos efeitos dramáticos associados ao crescimento chinês são mitos. ¿O avanço da China é uma ótima notícia para o Brasil¿, diz Videla, na seguinte entrevista:

Quais as conseqüências para o Brasil do avanço da China?

A notícia é positiva não só para o Brasil, mas para todos os países. O comércio internacional é um jogo de soma positiva, os países não são empresas. O Brasil não é a Coca-Cola e a China não é a Pepsi. Os países não competem, fazem intercâmbio. Isso não significa que seja positiva para todas as empresas. Parte das empresas será afetada. Mas isso não significa que os consumidores desses países sejam afetados porque os produtos serão mais baratos e de melhor qualidade.

Quais os efeitos para o Brasil?

Como o Brasil é um país que exporta commodities, ele é altamente beneficiado pela China. Há estudos do Banco Mundial, da OCDE e outras organizações internacionais que mostram que o comércio entre os dois países é complementar.

O Brasil não corre o risco de se limitar a ser um produtor de commodities?

Em todos os setores em que a China tenha vantagem competitiva, principalmente os que usam mão-de-obra intensiva, seguramente não haverá como competir. Mas isso significa que se o Brasil produzir commodities de baixo valor agregado o país estará pior? Não. Baixo valor agregado não tem nada a ver com a quantidade de empregos.

Mas a China não disputa investimentos com o Brasil?

O problema é que fazer investimentos no Brasil tem um custo altíssimo. É preciso negociar com municípios, Estados e o governo federal, contratar uma enorme quantidade de advogados e enfrentar muita burocracia. Na China, a burocracia também é grande, mas é menor que no Brasil. Uma vez fechado o acordo, o acordo se mantém. No Brasil, pode-se mudar de acordo com os movimentos políticos. Em segundo lugar, quem investe nesses países tende a investir em atividades de mão-de-obra intensiva. No Brasil, o mercado de trabalho está altamente distorcido, com custos altos para se demitir empregados, por exemplo.