Título: As pressões sobre o câmbio
Autor: Ming, Celso
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/05/2007, Economia, p. B2
Para frear a valorização do peso, o Banco Central da Colômbia impôs ontem uma quarentena aos recursos provenientes de empréstimos externos. Nada menos que 40 em cada 100 dólares tomados por empréstimo no exterior ficarão imobilizados por seis meses.
Pergunta: já que o nosso Banco Central não está dando conta da enorme entrada de dólares, uma decisão desse tipo não poderia ser tomada também aqui?
Até recentemente, a entrada de recursos financeiros foi relativamente baixa. Mas virou enxurrada. Só no primeiro trimestre, os Investimentos em Carteira somados aos recursos classificados como Outros Investimentos chegaram a US$ 24,5 bilhões, mais da metade do que entrou em 2006 inteiro. No primeiro quadrimestre, as reservas, que estão acima dos US$ 122 bilhões, cresceram US$ 37 bilhões, o que dá idéia do tamanho da intervenção.
As compras de moeda estrangeira e as operações no mercado futuro de câmbio não têm segurado o naufrágio do dólar. O Banco Central resvala para a mistificação quando diz que suas intervenções se limitam a reduzir a volatilidade. Qualquer um vê que o objetivo de tanta compra é frear a valorização do real. Já não temos câmbio flutuante. Este é um câmbio descaradamente controlado, cujos parâmetros são subjetivos.
O Banco Central pelo menos reconhece que intervenções nessas proporções só são justificáveis sob pressão temporária. No entanto, pelo menos seis fatores indicam que esse conjunto de forças veio para ficar. Nesse caso, caracteriza ou uma mudança de paradigma ou uma situação temporária de longa duração.
Vamos a eles: (1) como projeta o Fundo Monetário Internacional, o crescimento econômico global vigoroso se repetirá neste ano e no próximo; (2) aumenta a percepção de pouso suave da economia americana; (3) o banco central dos Estados Unidos (Fed) prepara o afrouxamento dos juros; (4) há excesso de investimento global na China, parte do qual poderá ser direcionada para o Brasil; (5) o forte aumento das reservas e a provável antecipação da promoção da dívida brasileira a grau de investimento atrairão mais capitais; e (6) aumenta a confiança externa na solidez dos fundamentos da economia.
Só um brutal aumento da inflação mundial, um grave choque externo ou a eclosão de uma guerra - fatores hoje improváveis - parecem capazes de reverter esse quadro. Isso sugere que, reconhecida a persistência da tendência a mais forte valorização do real, não se pode descartar a hipótese de mudança na política cambial.
Medidas de controle do fluxo de moeda estrangeira, tais como as que a Colômbia acaba de adotar, são de difícil execução. É complicado separar empréstimos comerciais ou para investimento (que não devem ser restringidos) de empréstimos financeiros de curto prazo. E controles desse tipo causam fortes turbulências nos mercados, como o caso recente da Tailândia mostrou à exaustão. Além disso, são de eficácia duvidosa. Mas é tão forte a entrada de dólares que, desta vez, algo diferente pode acontecer.