Título: Desenvolvimento industrial regional
Autor: Haddad, Paulo R.
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/05/2007, Economia, p. B2

No lançamento do Atlas de Competitividade da Indústria Paulista, em solenidade realizada na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), houve um seminário sobre as principais questões relativas ao processo de desenvolvimento industrial regional no Brasil. De início, constatou-se que o Estado de São Paulo possui a indústria mais dinâmica e diversificada do País, além de uma das melhores infra-estruturas físicas e tecnológicas, embora, desde 1998, tenha perdido posição relativa na produção industrial brasileira. Como os novos ciclos de expansão da economia brasileira no século 21 deverão ser intensivos em ciência e tecnologia, num ambiente de competição global, os padrões de localização industrial dependerão, crescentemente, da disponibilidade regional de trabalhadores em permanente processo de renovação de conhecimentos, de centros de pesquisas tecnológicas, de recursos humanos especializados, de ambiente cultural, etc. Dada a atual geografia da distribuição espacial desses fatores especializados ou não tradicionais entre as regiões brasileiras, há fortes sinalizações que o Estado de São Paulo deverá consolidar ou ampliar sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) industrial do Brasil, ao longo das duas próximas décadas. Especialmente se o Estado ativar uma política de desenvolvimento industrial por meio da mobilização de instrumentos econômicos e mecanismos institucionais contemporâneos, à semelhança de muitas regiões da União Européia. Outra constatação é a irrelevância econômica da produção industrial para a formação do PIB da grande maioria dos municípios brasileiros. Cerca de 2.300 municípios tiveram, em 2004, um PIB industrial per capita inferior a 10% do PIB industrial per capita brasileiro e cerca de 3.500, inferior a 20%. Em valores absolutos, o PIB industrial per capita do Brasil, calculado pelo IBGE, foi de R$ 4.000 em 2004, portanto, mais de 60% dos 5.560 municípios brasileiros dão contribuição anual para a produção industrial do País inferior a R$ 800 por habitante. Considerando que no cálculo do PIB industrial está incluído o setor de construção civil, é bastante provável que esse valor corresponda, fundamentalmente, a atividades de expansão e conservação da parte do capital fixo do município expressa por residências e construções comerciais. Nesta hipótese, estaria caracterizado não mais que um processo de industrialização de subsistência na maioria dos municípios brasileiros. Em seguida, quando se observa a localização dos municípios com PIB industrial per capita superior ao dobro do PIB industrial per capita brasileiro (o núcleo 'duro' de nossa industrialização), registra-se que, em 2004, muito poucos estão nas regiões menos desenvolvidas do País. Os principais fluxos de investimentos industriais que se destinaram para essas regiões estão orientados para a exploração beneficiada de seus recursos naturais, renováveis e não renováveis. Neste sentido, é possível identificar um sentimento regionalista nas regiões de fronteira agrícola ou de fronteira minerária, que se sentem como megaalmoxarifados de recursos naturais, nos quais as regiões desenvolvidas vão buscar os elos embrionários de suas poderosas cadeias produtivas. É preciso, contudo, reconsiderar os múltiplos aspectos dos impactos do processo de globalização econômica e financeira sobre as economias nacionais e regionais que têm por base de crescimento a exploração de seus recursos naturais. A complexidade da demanda global por certas especificações de qualidade dos produtos de origem primária (zoossanidade, fitossanidade, manejo sustentável, logística, certificação, diferenciação, etc.) faz com que esses produtos passem a ter maior intensidade de capitais intangíveis (humano, conhecimento tecnológico, institucional, etc.) do que um grande número de produtos industrializados tradicionais, reproduzidos em regime de economia informal, inclusive no Sul e no Sudeste do País. Da mesma forma, há muitas experiências de políticas públicas que permitem - por meio de instrumentos fiscais e financeiros ou de mecanismos de incentivos ao empreendedorismo e a compras locais - internalizar parte significativa do excedente econômico, viabilizado pela exploração dos recursos naturais nas áreas em que se localizam.