Título: Esquerda, de olho em 2010, monta 'bloquinho'
Autor: Assunção, Moacir
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/05/2007, Nacional, p. A8
Um grupo de deputados de vários partidos pretende provar a falsidade da antiga máxima segundo a qual 'a esquerda só se une na cadeia'. De quebra, integrantes de legendas como o PDT, PSB e PC do B - além de outras menores como o PHS, PMN, PAN e PRB - têm intenção de demarcar um território dentro do governo como um contraponto à influência de 'rivais' de direita como o PTB, PP e PMDB que também integram a base aliada.
Ao mesmo tempo, o bloco de esquerda, ou bloquinho, como é conhecido o grupo de sete partidos que conta com 78 deputados, já avisou que terá um candidato às eleições presidenciais de 2010, independentemente da posição do PT: o deputado e ex-ministro Ciro Gomes (PSB-CE). Ele é considerado pelos líderes do grupo candidato certo à disputa presidencial. 'É o nosso melhor nome e tem grande expressão nacional. Ele tem se mostrado muito animado para a eleição', afirmou o deputado Márcio França (PSB-SP).
O bloco de esquerda reúne um número de deputados que o coloca na posição nada desprezível de terceira força no Congresso, logo após o PT (com 82 deputados) e o PMDB (com 93 parlamentares).
A definição do nome do ex-ministro da Integração Nacional, um dos campeões nacionais de votos para o Legislativo, pode trazer problemas na base governista - uma vez que o próprio presidente Lula não poderá concorrer a um terceiro mandato e ainda busca um nome com viabilidade eleitoral no PT para sucedê-lo no Planalto.
E não é só. Nas eleições municipais do próximo ano, de acordo com França, o bloco lançará candidatos nas principais cidades do País. Em São Paulo, os preferidos são o ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo (PC do B), a deputada Luiza Erundina (PSB) e o deputado Paulinho da Força (PDT).
Aldo é o preferido disparado. 'O meu nome ainda não foi sacramentado, mas não descarto a hipótese (de ser o candidato)', desconversou o comunista, um dos responsáveis pela criação do bloco de esquerda, surgido após sua derrota para o petista Arlindo Chinaglia (SP) na disputa pela presidência da Casa. A batalha entre os dois candidatos deixou seqüelas na base que até hoje não foram totalmente curadas.
CIRO
No Rio, o bloco - que deverá ser formalizado no dia 22 deste mês, com o lançamento de um manifesto único - tem como nomes mais fortes para disputar a prefeitura no próximo ano o deputado Miro Teixeira (PDT) e a ex-deputada Jandira Feghali (PC do B). Todos os candidatos divulgarão o próprio nome e, simultaneamente, o de Ciro, fazendo a propaganda do socialista dois anos antes da eleição presidencial.
De acordo com França, o mesmo método será repetido nas capitais e nas cem principais cidades do País. 'Temos nomes competitivos nas 27 capitais. O bloco de esquerda nasceu para ficar. Não foi somente uma criação com vida curta surgida na época da eleição da Câmara', afirmou o deputado, um dos principais articuladores do grupo.
O bloco da esquerda espera conquistar pelo menos um terço dos votos nestas regiões e 25% das prefeituras das capitais.
'O PT também tem um bloco, com o PMDB e os demais partidos da centro-direita, mas ele não tem liga porque se trata de uma aliança momentânea, enquanto nós somos aliados históricos. A nossa aliança com o governo não é a da faca na garganta', comparou o parlamentar.
Ao menos por enquanto, o bloco de esquerda tenta não afrontar diretamente o governo. 'No momento, já estamos satisfeitos em não sermos mais secundários nas alianças', disse França.
Além da força política, o bloco tem cargos, já que os parlamentares ligados a ele ocupam três ministérios - Esporte, Trabalho, Ciência e Tecnologia - e são cotados para controlar a recém-criada Secretaria de Portos.
O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), garantiu que o partido não vê o bloco como uma ameaça. 'Os partidos somados têm um tamanho semelhante ao do PT. Não o enxergamos como algo negativo, já que eles são nossos aliados.'