Título: DEM reage a aproximação de setores do PSDB com PT
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/05/2007, Nacional, p. A9

O vaivém do tucanato em direção ao Palácio do Planalto, que chegou ao ponto mais alto na última semana, quando o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), admitiu a possibilidade de parceria eleitoral com o PT, tem razões que vão muito além da falta de rumo da oposição. Enquanto os companheiros do DEM se irritam com o jogo de aproximação entre PSDB e governo, tucanos mais experientes explicam que será assim até 2010 por um motivo: dentro da sigla, já foi dada a partida para a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O DEM também sabe que as diferenças de discurso e de estratégia, assim como a movimentação aparentemente contraditória dos tucanos, miram a disputa presidencial. Avalia que as idas e vindas que abriram caminho para o presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), visitar Lula três semanas atrás são úteis para manter a polarização com o PT e reforçar a imagem do partido como alternativa de poder.

'Quando se atira para todos os lados, perde-se a nitidez, a clareza. Ficam no jogo do morde e sopra, o que só confunde o eleitor', criticou o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), ao saber que até o presidente do PSDB admitira parceria com o PT. Diante das críticas ao radicalismo do DEM, Maia diz que não é possível ser oposição pela metade. 'Sou oposição e ponto. Fazemos oposição sem nenhuma saudade do poder.'

Mas, o que soa ao DEM como falta de clareza, revela-se aos tucanos como recado claro ao governo e aos companheiros da oposição. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), assume, sem titubear, que as diferenças de estilo decorrem da natureza de cada legenda. 'O PSDB não é franco atirador. Eu respondo pela liderança de um partido que tem pelo menos dois presidenciáveis com chances reais de chegar ao poder', disse sobre Aécio e José Serra.

A movimentação do governador de Minas, que jantou com a cúpula do PMDB na terça, em Brasília, foi entendida como recado aos correligionários, mostrando que é candidato a presidente. Aécio procura se contrapor à hegemonia paulista, que dá vantagem óbvia a Serra. E o faz por articulação ampla, que o leva tanto à Paraíba de Cássio Cunha Lima (PSDB) quanto ao Distrito Federal de José Roberto Arruda (DEM).

Não é por acaso que a governadora gaúcha, a tucana Yeda Crusius, prevê que um embate de gerações ocorrerá em breve no partido. Prevalece na cúpula do PSDB entendimento de que Serra tem presença forte na sigla, com história calcada em parcerias de política ideológica e na solidariedade que lhe rendeu relação de fidelidade com os companheiros. Avalia-se, também, que São Paulo acabará fechando com Serra, o que inclui o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Quem avança no raciocínio aposta que Serra largará na frente nas pesquisas eleitorais de 2009, porque já foi candidato e tem mais recall. Foi assim em 2006, quando liderou por um bom tempo as pesquisas, seguido à distância por Geraldo Alckmin. Na ocasião, coube ao governador de Minas a terceira posição.

Mas isso não é razão para Aécio 'espirrar' do PSDB. Espantado com o resultado da andança do governador mineiro, o deputado Alceni Guerra (DEM-PR) recorre à metáfora futebolística para retratar o que viu e ouviu no Congresso: 'O Aécio hoje é o Ronaldinho Gaúcho com o passe livre. Todas as grandes correntes políticas se assanharam para tê-lo. Chegaram até a pensar na criação de um novo clube, das pequenas legendas governistas do campo da esquerda.' Ao menos esta semana, ele avalia que Serra ficou 'reduzido' a um mero Robinho: 'É um craque, mas com o passe preso.'