Título: Pacto permite intervenção venezuelana na Bolívia
Autor: Costas, Ruth
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/05/2007, Internacional, p. A16

Depois de apoiar Evo Morales em sua campanha presidencial, Hugo Chávez hoje ajuda a sustentar a popularidade de seu aliado financiando programas sociais e de desenvolvimento na Bolívia - a terceira área em que sua presença é marcante. No início do ano, o venezuelano doou US$ 30 milhões para os municípios bolivianos, dinheiro distribuído por Evo em suas andanças pelo país. Chávez também entregou para localidades na Bolívia mais de 300 tratores, financiou o envio de médicos e professores cubanos ao país e já começou a fornecer as primeiras de um total de 5 mil bolsas para que bolivianos estudem na Venezuela. 'Mesmo os projetos sociais implementados pelo governo de Evo sem ajuda externa se inspiram nos venezuelanos - e pecam pelo mesmo excesso de assistencialismo e falta de planejamento de longo prazo', diz o deputado Fernando Messmer, do partido Podemos, de oposição.

Na área de defesa, a expressão mais polêmica da influência venezuelana é o acordo militar assinado em maio. O documento prevê a construção de um porto e de uma base militar na Bolívia com recursos cedidos pela Venezuela e estipula a cooperação militar para a 'gestão de crises', abrindo espaço para o envio de soldados venezuelanos em casos de conflito interno no país aliado. 'Foi um absurdo o que o governo e seus simpatizantes fizeram: o acordo foi aprovado no Senado numa sessão extraordinária à noite e com a Casa cercada por movimentos sociais que dificultavam a entrada de parlamentares da oposição', reclama Messmer.

Entre os brasileiros, a aliança Bolívia-Venezuela causa apreensão. Segundo alguns analistas, um dos principais objetivos da aproximação entre os dois países e da criação da chamada Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba), que também inclui Cuba e Nicarágua, seria fortalecer a liderança venezuelana em contraposição ao papel do Brasil na região. O Brasil continua a ser o principal parceiro comercial da Bolívia e a contigüidade geográfica aproximou a história e o povo dos dois países. O governo boliviano, porém, cada vez mais tem os olhos voltados para terras mais distantes.