Título: Cultivo legal de coca aumenta sob Evo
Autor: Costas, Ruth
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/05/2007, Internacional, p. A17

Desde que o presidente boliviano, Evo Morales, assumiu o poder, em 2005, a área de cultivo legal de coca - produto usado tanto para fazer chá quanto para produzir cocaína - aumentou de 12 mil para 20 mil hectares em seu país e, segundo algumas estimativas, outros 7 mil hectares podem estar sendo cultivados ilegalmente.

Não podia ser diferente. Evo ganhou projeção internacional liderando um movimento de plantadores de coca da região do Chapare, em Cochabamba, e durante sua campanha nunca escondeu que transformaria o incentivo ao cultivo desse produto em política de Estado. O problema é que, como o consumo de artigos industrializados fabricados a partir da coca não cresceu significativamente, há fortes indícios de que o aumento esteja alimentando o narcotráfico na Bolívia.

A questão deve preocupar os brasileiros particularmente porque, segundo algumas estimativas, de 80% a 90% da droga produzida na Bolívia cruza a fronteira em direção ao Brasil, onde é consumida ou reexportada para a Europa.

RETROCESSO

'Estranho que até agora o governo brasileiro não tenha tomado uma posição mais firme em relação à política ambígua do governo Evo, que incentiva a produção de coca e diz combater o narcotráfico como se ambos não estivessem relacionados', disse ao Estado o deputado Ernesto Justiniano, do partido oposicionista Podemos.

Como ex-vice-ministro de Defesa Social, Justiniano ajudou a coordenar os programas de incentivo à substituição da coca por outros tipos de culturas na gestão anterior. 'Com a liberdade concedida atualmente para o cultivo e a comercialização de coca, a Bolívia está retrocedendo em tudo que já havíamos conquistado na batalha contra as drogas.'

Só nos primeiros quatro meses deste ano, a Força Especial de Luta Contra o Narcotráfico boliviana (FELCN, uma unidade de elite que conta com o apoio dos EUA) apreendeu 5 toneladas de cocaína, 20% a mais do que toda a droga apreeendida n o ano passado.

'O narcotráfico não é mais violento apenas no Chapare. O surpreendente é que aparece em grande parte do país: El Alto, Cochabamba, Oruro, Santa Cruz, Cobija e Tarija', observou o chefe nacional da FELCN, René Sanabria.