Título: Base espera que Senado fique sem ter o que apurar
Autor: Leal, Luciana Nunes
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/05/2007, Nacional, p. A8

Depois de tentar inviabilizar a abertura da CPI do Apagão Aéreo no Senado, os governistas mudaram a estratégia: resolveram indicar os integrantes da comissão e apostar que a concorrência com a mesma CPI na Câmara vai enfraquecer as investigações.

Os líderes dos partidos da base no Senado prometeram indicar, na próxima terça-feira, também os integrantes da CPI das ONGs, que deveria ter começado a funcionar no fim do ano passado. Mais uma vez, com a expectativa de que as CPIs vão atrapalhar umas as outras.

Apesar da aposta de naufrágio das comissões, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), deixou claro que haverá reação se a oposição insistir em investigar denúncias de irregularidades, como superfaturamento e direcionamento de licitações, na Infraero, a estatal responsável pelos aeroportos do País.

A tática será mostrar que a Infraero firmou convênios e parcerias com os governos estaduais, inclusive os da oposição. ¿No caso da Infraero, os governos são parte da operação. Governo de Goiás, governo de Pernambuco¿, afirmou Jucá, ontem. Até o ano passado, Goiás era administrado pelo tucano Marconi Perillo e Pernambuco, pelo peemedebista Jarbas Vasconcelos. Ambos fora eleitos senadores e estão na linha de frente da oposição no Senado.

O próprio líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), tem dito que a Infraero não será o foco inicial das investigações. Ele diz que as investigações mostrarão uma opção do governo por investir mais em aeroportos do que em segurança de vôo e, aí sim, será a vez de a CPI se voltar para os contratos da estatal.

Agripino diz que o governo erra por apostar no esvaziamento das CPIs. ¿Eles desistiram de tentar evitar o inevitável. Não querem ficar mal na fotografia que já foi tirada¿, afirmou.

Segundo Agripino, a CPI do Apagão Aéreo no Senado terá mais facilidade para fazer convocações do que a da Câmara, dominada por parlamentares governistas, que ocupam a presidência e a relatoria.

No Senado, o mais provável é que o PMDB, de ampla maioria governista, fique com a presidência e o DEM, com a relatoria da CPI, por serem as duas maiores bancadas. Para evitar o excesso de comissões, o DEM poderá adiar a instalação da CPI das ONGs.

¿Não queremos fazer manobra para evitar CPI, só se fosse por entendimento político¿, afirmou Jucá. ¿No fundo, vai ter disputa entre as CPIs¿, previu o líder. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), terá que decidir na próxima semana o que fazer com um requerimento do senador em que pede o arquivamento da CPI no Senado, segundo ele inconstitucional por já existir outra na Câmara com o mesmo foco. O mais provável é que Renan Calheiros mande o caso para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). ¿Mas a questão de ordem não tem efeito suspensivo, não impede o andamento das CPIs¿, afirmou Jucá.