Título: Obesos sofrem discriminação
Autor: Formenti, Lígia
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/05/2007, Vida&, p. A26

Relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgado ontem adverte para novas formas de discriminação no ambiente profissional - fumantes, pessoas obesas ou com histórico de problemas de saúde na família enfrentam mais dificuldade para conseguir emprego. Também têm mais facilidade para perdê-lo.

O estudo da OIT mostra ainda que jovens e idosos vivem dificuldades crescentes para encontrar trabalho. Ao primeiro grupo, restam vagas temporárias, que oferecem menos benefícios e oportunidades de formação e poucas perspectivas. Entre pessoas mais velhas, a discriminação é justificada pelos custos elevados de seu trabalho, associado a uma teórica perda de produtividade.

'Uma das constatações mais contundentes do relatório é que a discriminação representa um prejuízo não só para os grupos afetados, mas para toda a sociedade, que deixa de aproveitar todo o potencial que essas pessoas teriam a oferecer', afirma a diretora da OIT no Brasil, Laís Wendel Abramo.

No Brasil não há números ou estudos específicos sobre o tema. Ela chama a atenção, porém, para o fato de que esse fenômeno não começou recentemente. 'A discriminação no trabalho é dinâmica, muitas vezes sua forma de manifestação se altera, daí a necessidade de estarmos atentos e adotarmos medidas rápidas para evitar que tais práticas se consolidem', diz Laís.

ABISMOS

O relatório faz várias referências elogiosas ao País. Cita a criação da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres e da Igualdade Racial como iniciativas importantes para tentar reduzir a discriminação no trabalho.

Mas o estudo constata que, embora a situação tenha apresentado uma discreta melhora nos últimos dez anos, ainda é extremamente significativa a desigualdade de gênero e raça no mundo do trabalho brasileiro. 'E não estamos falando de minorias. Mulheres e população negra representam 70% dos brasileiros', constata.

Mulheres negras são as que mais sofrem com a discriminação. Embora a situação desse grupo tenha melhorado significativamente, elas apresentam a menor taxa de participação no mercado de trabalho, menor taxa de ocupação, maior taxa de desemprego e menor rendimento.

A diferença, em 1995, era maior. A taxa de ocupação de mulheres negras naquele ano era de 48,2%, enquanto que homens brancos, no topo da lista, apresentavam 74,9%. Em 2005, a taxa de ocupação de homens brancos caiu para 73,3%, enquanto a taxa para mulheres negras cresceu para 52,7%.

Mulheres brancas também aumentaram sua participação, mas num ritmo inferior: 22,4%, comparado com 2005. A população negra também apresentou um crescimento expressivo na taxa de ocupação: 33,1% em comparação aos 15,1% do crescimento da população branca.

Essa tendência para melhor distribuição do mercado de trabalho se deve principalmente ao aumento significativo da escolaridade das mulheres negras. Mas também ao fato de que, durante a crise econômica enfrentada na década de 90, homens com melhor qualificação e remuneração foram os mais afetados.

É justamente na remuneração que a diferença entre homens, mulheres, brancos e negros se destaca: mulheres negras recebem metade do que homens brancos.