Título: Evo aceita pagar os US$ 112 milhões. Em duas parcelas
Autor: Marin, Denise Chrispim e Goy, Leonardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/05/2007, Economia, p. B1

A Petrobrás fechou ontem um acordo com a Bolívia que, na prática, foi uma 'liquidação' de suas refinarias naquele país. Depois de investir US$ 124 milhões, a Petrobrás vai recuperar apenas US$ 112 milhões, em duas parcelas, a segunda em 60 dias, que poderão ser quitadas com o fornecimento de gás. No entanto, a forma e as condições de pagamento não foram confirmadas pela Petrobrás em nota divulgada à noite.

Como resultado do acordo, a estatal brasileira abandona o refino de petróleo na Bolívia e se livra de um ambiente de negócios imprevisível pelas constantes mudanças nas regras dos contratos.

'O diálogo prevaleceu. Estamos satisfeitos com o entendimento', disse o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau. Ele informou que será criada uma comissão de transição do controle das refinarias para a estatal boliviana Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB). O valor de US$ 112 milhões, segundo Rondeau, inclui ativos e estoques das refinarias e foi o preço pedido pela Petrobrás desde o início. Assim, ele contrariou informações de que o preço de venda inicial era de US$ 153 milhões.

O ministro negou, também, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha interferido na definição do valor. 'O presidente Lula, desde o início da discussão, sempre apoiou a posição comercial da Petrobrás no assunto. O presidente não entrou na questão do preço.'

A compra foi acertada em reunião entre o presidente da Bolívia, Evo Morales, e os ministros da área energética na sede do governo. No final da manhã, a resposta foi dada verbalmente pelo ministro de Hidrocarbonetos e Energia, Carlos Villegas, ao presidente da Petrobrás Bolívia, José Fernando de Freitas, e ao embaixador do Brasil, Frederico Araújo.

A definição do preço, entretanto, não encerrou o imbróglio nem dissipou o clima de desconfiança da Petrobrás e do governo brasileiro em relação à palavra dada pela equipe de Evo Morales. Uma resposta definitiva, em papel e assinada, foi exigida. O documento foi entregue no início da noite. 'Com o irmão Lula, jamais vamos nos enfrentar', disse Evo.

O preço de US$ 112 milhões pela venda de 100% das ações das refinarias em Santa Cruz de la Sierra e em Cochabamba foi o principal ponto da proposta feita na terça-feira pela Petrobrás ao governo boliviano. A oferta refletiu a decisão da empresa de se retirar da atividade de refino de petróleo na Bolívia, mesmo com prejuízo. A Petrobrás havia adquirido essas mesmas plantas em 1999 por US$ 104 milhões. Desde então, a companhia investiu cerca de US$ 20 milhões.

A proposta de venda das refinarias foi apresentada pela Petrobrás como reação à decisão do governo de Evo de editar decreto, que determinou a expropriação do fluxo de caixa das refinarias. A notícia chegou ao governo brasileiro quando estava em curso a negociação da proposta anterior da Petrobrás de manter uma cota de 20% das refinarias e de atuar em parceria com a YPFB no setor de refino.

Nessas conversas, segundo fontes, a Petrobrás já havia baixado o preço total das refinarias de US$ 153 milhões para US$ 135 milhões, mas as autoridades bolivianas não aceitavam preço superior a US$ 110 milhões.