Título: 'Esqueçam essa história de filiação ao PMDB'
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/05/2007, Nacional, p. A9

Em entrevista ao Estado, o governador de Minas, Aécio Neves, diz que há ¿cobrança excessiva¿ ao PSDB, após duas derrotas para a Presidência. Garante que não tem planos de se filiar ao PMDB e nega atritos com o governador José Serra em torno da próxima eleição para presidente: ¿Eu não perco um minuto do meu sono pensando em 2010.¿

O senhor foi sondado para ingressar no PMDB ?

Esqueçam essa história de filiação ao PMDB. Não estou pensando nisso. Michel e Henrique sabem que eu estou muito bem no PSDB. Não acho impossível que estejamos juntos em 2010, mas não vou tratar de 2010 antes de 2007 e 2008.

O que levou o PSDB e a oposição de maneira geral ao cenário atual de desarticulação?

Acho que existe uma cobrança excessiva em relação à oposição, especialmente ao PSDB. Todo partido que perde a eleição - e o PSDB perdeu duas - precisa naturalmente se reorganizar. A reorganização demanda tempo e estamos fazendo isto no tempo certo para termos como objetivo, agora, um bom resultado nas eleições de 2008. Acho que vamos ter.

Mas o PSDB não conseguiu afinar o discurso na oposição.

Eu vejo com absoluta serenidade estas críticas. O PSDB está fazendo o que precisa ser feito: se reorganizando do ponto de vista formal nos Estados, renovando o seu programa partidário e estabelecendo novas estratégias para enfrentar as futuras eleições. Acho que o PSDB continua sendo a principal alternativa de projeto de País.

O DEM critica o tom ameno do PSDB na oposição e até o ex-presidente Fernando Henrique cobra uma postura mais firme dos governadores na oposição ao governo.

Eu concordo com Fernando Henrique. É isto mesmo. Somos oposição e eu estou aqui dizendo que o PAC cometeu o grande equívoco de não ouvir os Estados. Estou criticando, mas não me peçam para fazer oposição xingando. Não devemos ser tutelados por A ou B.

Houve um tempo, inclusive em período de pré-campanha para presidente, em que se falava muito no partido que a parceria ideal seria entre o PSDB e o PT. Em Minas, os dois partidos têm uma relação fantástica. Existe possibilidade de se construir um projeto conjunto do PSDB com o PT em 2010?

Nem sequer isto eu descarto para o futuro do País. Eu acho que o importante é construirmos um projeto para o Brasil. Eu sempre disse isto. Acho que algumas disputas pontuais afastaram de forma definitiva o PSDB do PT. Nada é irreversível na política. Não acho que devamos estar longe definitivamente. Mas acho que meu papel hoje, até porque foi este o papel que a população nos reservou, é de ser oposição ao governo que está aí. Então, no futuro eu não fecho as portas para isto. Mas hoje considero que nosso papel é exercer oposição responsável.

Há quem diga, na direção nacional tucana, que o PSDB é sempre o partido do alguém contra quem. Tem sempre o drama dos projetos pessoais, do academicismo e de não conseguir estabelecer o contato direto com o povo.

O PSDB talvez sofra do mal do qual todos os partidos gostariam de sofrer: um excesso de quadros com respeitabilidade junto à população. Quero que o PSDB, eternamente, sofra deste mal. O que vamos fazer é garantir a unidade e as lideranças têm esta responsabilidade.

O fato de o PSDB ter dois nomes para 2010 - o do senhor e o do governador José Serra - não cria expectativa de confronto?

Isto existe muito na cabeça das pessoas, a própria mídia explora muito isto, mas na nossa não existe. Eu tenho uma relação pessoal com Serra absolutamente fraterna. Estaremos juntos no projeto futuro de Brasil. Se for em torno do José Serra, serei o primeiro a abraçá-lo e a me apresentar como soldado. Não há no PSDB posições irremovíveis. Pelo menos a minha não é. Não é hora de antecipar este processo. Somos governadores de Estados importantes, temos demandas diárias a enfrentar. Eu não perco um minuto do meu sono hoje pensando em 2010.

Quem é: Aécio Neves

Está no segundo mandato como governador de Minas

É um dos dois nomes mais cotados no PSDB para assumir a candidatura à Presidência em 2010

É neto de Tancredo Neves.