Título: Kirchner deve desistir da reeleição
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/05/2007, Internacional, p. A17

Cresce a possibilidade de que o presidente Néstor Kirchner deixe de lado suas ambições de apresentar-se à reeleição em outubro - e de que a candidata à sucessão seja sua mulher, a primeira-dama e senadora Cristina Fernández de Kirchner. Ontem, um dos principais analistas políticos do país, Joaquín Morales Solá, assegurou em sua coluna no tradicional jornal La Nación - citando como fontes dois ministros e um secretário de Estado - que o candidato 'será ela e não ele'. Assim, estaria desvendado o mistério estabelecido por Kirchner meses atrás, quando afirmou que o candidato do governo seria 'um pingüim ou uma pingüim-fêmea' (em alusão ao apelido que ostenta de 'Pingüim', por suas origens patagônicas).

Morales Solá sustenta que até poucas semanas atrás o candidato presidencial era o próprio Kirchner. Mas, nesse intervalo, a situação política e econômica complicou-se, e o presidente teve de refazer os planos. No último mês, Kirchner foi o alvo de suspeitas do Caso Skanska - o maior escândalo de corrupção desde que tomou posse, em 2003 -, foi acusado de 'maquiar' o índice de inflação, que está em disparada; e, de quebra, tornou-se o foco de protestos de sindicatos de professores em todo o país, especialmente em seu feudo, a Província de Santa Cruz (veja box).

Embora a popularidade de Kirchner ainda seja elevada, começou a cair. No meio da seqüência de crises, a pior em quatro anos, Cristina - que formalmente não integra o governo - passou incólume. Se fosse eleita, a primeira-dama teria um ano de relativa paz política com o eleitorado. Essa lua-de-mel não existiria no caso da reeleição de Kirchner.

O plano do casal Kirchner seria o de conseguir para Cristina a presidência para o período 2007-2011. Assim, ficaria aberta a possibilidade de uma candidatura de Néstor em 2011, sucedendo à própria esposa, para ficar no poder até 2015. O cientista político Ricardo Rouvier argumenta que Cristina passa a imagem de 'mulher com vontade e inflexível', fórmula de sucesso no eleitorado de classe baixa. Uma pesquisa realizada por sua consultoria indica que ela conta com 42% das intenções de voto. Entre os candidatos da oposição, a centro-esquerdista Elisa Carrió, ficaria com 17,8%; enquanto que o ex-ministro da Economia Roberto Lavagna, que lidera uma coalizão centro-progressista, teria 16,4%.

Embora não faça parte do gabinete presidencial, ao longo dos últimos dois meses Cristina Kirchner foi enviada ao México, França, EUA, Venezuela e Equador para representar o governo. Foi recebida nesses países como a virtual chefe de Estado.

Há poucos dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao visitar Buenos Aires, posou ao lado do casal presidencial para uma foto que os argentinos interpretaram como 'de forte respaldo político' à candidatura de Cristina.