Título: Estatal quer dinheiro à vista
Autor: Lima, Kelly e Tereza, Irany
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/05/2007, Economia, p. B4

A Petrobrás exigiu do governo boliviano pagamento à vista e em dinheiro pelas duas refinarias que serão transferidas para a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB). A estatal brasileira não vai aceitar o pagamento em petróleo ou gás natural.

As condições finais foram apresentadas ontem pelo presidente da Petrobrás Bolívia, José Fernando de Freitas, ao ministro de Hidrocarbonetos da Bolívia, Carlos Villegas, na reunião realizada em La Paz.

A Bolívia tem prazo até as 12 horas de hoje para dizer se aceita ou não a oferta da Petrobrás. Se não houver acordo, a Petrobrás vai recorrer a arbitragem internacional. Se o governo Evo Morales aceitar as condições, a Petrobrás informou que permanecerá no comando das duas refinarias por 30 dias, para a transição de mando para a YPFB.

O Estado apurou que no encontro de ontem ocorreu em clima cordial, mas o diálogo foi franco. O presidente Petrobrás Bolívia disse que as decisões de La Paz quebraram a confiança e inviabilizaram qualquer possibilidade de manter uma relação societária.

Por isso, a Petrobrás desistiu de negociar a permanência como sócia minoritária nas refinarias. Nas negociações, a companhia considerou a possibilidade de ficar com um bloco de 20% das ações desses ativos e entregar ao governo boliviano o restante. A hipótese foi completamente abandonada depois da decisão de domingo. Ainda segundo diálogo de ontem, a Petrobrás disse que nem a suspensão do decreto restauraria a confiança.

Não está descartada uma tentativa boliviana de obter mais prazo. O problema está no fato de que a YPFB, que deixou totalmente a operação petroleira nos anos 90, ainda não reúne condições totais para gerir o setor.

O decreto supremo anunciado domingo cria um problema operacional imediato para a Bolívia. A YPFB assumiu a exportação do petróleo reconstituído e de gasolinas brancas, produtos das refinarias. A reportagem apurou que esse petróleo pesado precisa necessariamente ser retirado das refinarias.

'Há uma capacidade de estocagem desse produto nas unidades. Eles precisam negociar a venda desse produto e exportá-lo', diz uma fonte.

Sem a retirada desse produto das unidades, as refinarias não podem manter a produção. A capacidade de estocagem desses produtos é limitada.