Título: Petrobrás se conformou com pouco, diz mercado
Autor: Lima, Kelly e Tereza, Irany
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/05/2007, Economia, p. B4

O mercado recebeu mal as primeiras informações de que um acordo entre a Petrobrás e o governo boliviano havia sido fechado com o valor de US$ 110 milhões. A Petrobrás só negou a veracidade da informação no início da noite, divulgando, por meio de sua assessoria, que a situação permanecia a mesma e que continuava aguardando um acordo com os bolivianos até o fim do prazo estipulado, previsto para hoje às 12 horas (horário de Brasília).

A onda de especulações começou na Bolívia por volta das 15 horas (horário local) e logo repercutiu no Brasil.

Analistas, especialistas e técnicos ressaltaram o fato de a Petrobrás ter pago US$ 104 milhões pelas duas plantas em dezembro de 1999 e ainda ter investido nos últimos anos na modernização das unidades, responsáveis pelo abastecimento de todo o mercado de gasolina e combustível de aviação e pela maior parte do de diesel do país.

'O valor que pode ter sido fechado agora é baixo, mas não havia outra saída. Ir para arbitragem internacional iria ser um custo político muito arriscado para a Petrobrás', comentou o professor da UFRJ, Giuseppe Baccocolli, antes do desmentido da estatal.

Para o diretor do Centro Brasileiro de Infra-estrutura, Adriano Pires, o acordo nesses termos indicaria uma clara 'vitória de Evo Morales'. 'A Petrobrás fecha o acordo pela metade do que havia proposto inicialmente e o presidente boliviano, apesar de ter falado em valores de US$ 50 milhões e US$ 60 milhões, paga exatamente com o que queria, que era o valor patrimonial pelo qual as refinarias foram privatizadas. Foi um blefe de mestre ter feito oferta mais baixa. Ponto para ele.'

Para um analista de instituição financeira de São Paulo, a Petrobrás não deveria estender mais do que o necessário a negociação, porque desde o decreto lançado no fim de semana - pelo qual o governo local assumiu o controle sobre a comercialização dos derivados -, as atividades, que já eram pouco rentáveis, passaram a trazer prejuízos para a estatal. 'Quanto mais tempo a empresa ficar com esse mico na mão, mais estará perdendo.'

Já o consultor Douglas Abreu, da Gas Energy, contemporizou: 'Não dá para dizer se o valor é justo. A Petrobrás deve receber metade do que queria, mas tem de ser ressaltado que a Bolívia vai pagar o dobro do que pretendia. O importante é que houve a negociação e isso mostra à Bolívia que não dá para ganhar todas no grito.'