Título: Investigação seguirá 'doa a quem doer', afirma Lula
Autor: Pennafort, Roberta e Morais, Rodrigo
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/05/2007, Nacional, p. A5

Ao lado do ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau - que teve seu assessor especial Ivo Almeida da Costa preso pela Operação Navalha da Polícia Federal -, e do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em visita a Araguaína, no Tocantins, que as investigações da máfia das obras estão em sua fase inicial, o que não permite prejulgamentos.

¿Eu não faço comentário de operação de polícia porque é apenas o começo. Depois da operação da polícia tem todo um critério de investigação, e um presidente da República, de forma responsável, precisa tomar cuidado ao falar. Eu não posso prejulgar ninguém nem inocentar¿, afirmou, depois de inaugurar um trecho de 153 quilômetros da Ferrovia Norte-Sul. A obra integra o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). ¿Nós, com muita tranqüilidade, temos de deixar que a polícia e a Justiça façam sua parte, doa a quem doer.¿

A Operação Navalha já prendeu 46 pessoas, entre elas aliados de Renan e do senador José Sarney (PMDB-AP). Anteontem, tão logo a operação da PF se tornou pública, Renan avisou que conhece vários dos envolvidos, entre eles o dono da Construtora Gautama, Zuleido Soares Veras. O empresário também foi preso e é apontado como um dos coordenadores do esquema de fraudes milionárias em licitações públicas desmontado pela PF.

Inesperada, a aparição de Renan ao lado de Lula foi interpretada como um sinal claro de proteção. O presidente até justificou a presença de Renan logo na abertura de seu discurso. ¿Quero agradecer a presença do Renan, que atendendo a um convite meu veio conhecer a obra¿, disse.

Em seguida, também afagou Sarney. Ao mencionar que a construção da Norte-Sul foi idealizada pelo ex-presidente em 1987, voltou a se penitenciar por tê-lo criticado no passado. ¿Eu fui crítico forte em 1987 do Sarney quando ele anunciou a ferrovia. Precisei virar presidente para compreender a importância da obra. Já que não pude trazer o Sarney, trouxe o Renan, que é o presidente do Sarney no Senado.¿

Na quinta-feira, o ex-presidente chegou a cancelar seu embarque para a Europa, onde participaria de encontro de ex-chefes de Estado. A Operação Navalha o afeta, pois envolve um assessor especial de Rondeau incluído em sua cota de nomeações. Já a presença do ministro de Minas e Energia não causou estranheza, pois seguiria de Araguaína para outra cidade do Tocantins, Porto Nacional, para inauguração de uma usina de biodiesel. O ministro, porém, evitou a imprensa durante todo o tempo em que esteve com Lula.