Título: Diálogos cifrados revelam pressão por propinas
Autor: Filgueiras, Sônia e Mendes, Vannildo
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/05/2007, Nacional, p. A8

Os grampos captados pela Polícia Federal revelam diálogos que indicam o suposto pagamento de propinas a agentes públicos em troca da liberação de recursos para obras tocadas pela Gautama. Em conversas cifradas, nas quais interlocutores do dono da empresa, Zuleido Veras, e outros dirigentes da Gautama utilizam termos como ¿documentos¿, pedem que o empreiteiro se lembre da ¿calói¿, do ¿negócio¿ ou do ¿material¿, em lugar de mencionar dinheiro. Em geral, antes ou depois de encontros ou conversas, Zuleido entra em contato com sua área financeira para pedir retiradas de recursos.

Um dos diálogos é travado entre o deputado distrital Pedro Passos (PMDB-DF) e o empreiteiro: ¿Segunda-feira eu tô aí e levo o material. De noite a gente se encontra, tá?¿ E o deputado replica: ¿Mas sem falta, sem falta?¿ Zuleido Veras o tranqüiliza: ¿Sem falta. Fique tranqüilo¿. Antes, Passos diz a Fátima Palmeira, diretora comercial da Gautama: ¿Fala para ele (Zuleido) que o amigo dele está em desespero¿.

Flávio de Oliveira Neto, então chefe da Casa Civil do governo João Alves Filho, em Sergipe, também demonstra ansiedade em conversas que, segundo a Polícia Federal, dizem respeito ao suposto pagamento de propinas. Nas gravações, realizadas em 2006, Zuleido diz a Flávio que o ¿o material está chegando só amanhã¿. E Flávio pede ajuda porque ¿o negócio está brabo¿. Um mês depois, em outra conversa, Flávio pergunta a Zuleido se ¿tem mais alguma coisa¿. O empreiteiro responde que ¿com certeza termina o pagamento¿. Quatro dias depois, supostamente ainda sem ter recebido nada, Flávio questiona Zuleido ¿se pode contar com o dinheiro¿.

Em setembro de 2006, Flávio fez o último suposto pedido de propina, que, segundo a PF, seria entregue a João Alves Neto, filho do então governador.

A Gautama foi contratada em 2006 pelo governo sergipano para tocar obras de um sistema de adutora do Rio São Francisco no valor de R$ 28,6 milhões. O dinheiro é do Ministério da Integração Nacional, repassado ao governo do Estado.

Para a PF, as escutas mostrariam que o filho do então governador comandaria as finanças do Estado na prática - embora não tivesse cargo público - e receberia propinas regularmente. Numa conversa, Zuleido diz a Flávio que haveria uma promessa de ¿15¿ para João Neto.

Geraldo Magela, assessor do ex-governador José Reinaldo Tavares, pede ao dono da empreiteira que lembre ¿da calói¿ (pagamento), pois ¿tem muita coisa para resolver¿. Zuleido responde que está cuidando. Segundo a PF, Magela teria recebido R$ 56,3 mil.

Alexandre Lago, sobrinho do governador do Maranhão, Jackson Lago, em conversa com Fátima Palmeira diz que está chegando a Brasília para conversar a respeito do andamento ¿daquele procedimento¿. Fátima diz que precisa entregar ¿uma documentação a ele¿ e que isso ocorrerá por volta das 21h30. Segundo a PF, Fátima entregou R$ 240 mil a Alexandre e a outro sobrinho de Lago.

Em conversas entre si, executivos da Gautama conversam sobre o transporte de ¿agendas¿ - para a PF, há indícios de que se trate na verdade de dinheiro. Um deles diz que, por falta de tempo, ¿a gráfica não fez todas as agendas¿. Só foram conseguidas 500.