Título: 'Virou festança do especulador'
Autor: Chiarini, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/05/2007, Economia, p. B9

O ex-ministro do Planejamento João Paulo dos Reis Velloso, organizador do Fórum Nacional, apontou ontem quatro linhas de ação para conter a valorização do câmbio, com base em debates de economistas, ministros, parlamentares e empresários que participaram do evento ao longo de seus 19 anos.

A primeira linha inclui a redução mais rápida dos juros e o ajuste fiscal. ¿Deve-se procurar reduzir o estímulo à verdadeira festança dos aplicadores estrangeiros para aproveitar o ainda muito grande diferencial entre juros reais externos e internos¿, disse ele.

De janeiro de 2006 a março deste ano, US$ 14,5 bilhões entraram no País para aplicações em renda fixa. Essa é uma das faces da questão do câmbio que Reis Velloso considera ¿realmente complexa¿ e deve ser vista com perspectiva também de médio e longo prazos.

A segunda ação é centrada na redução de custos e no aumento da qualidade de serviços de infra-estrutura. A terceira é voltada para o apoio aos setores mais afetados pelo câmbio e pela concorrência com a China. A quarta propõe a montagem de uma estratégia permanente para exportações e outra para o desenvolvimento econômico.

Sobre o câmbio, ele cita a observação do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) - que também recomenda a redução mais rápida dos juros - segundo a qual a inflação medida pelo IPCA em 2006, de 3,14%, ficou abaixo não só da meta oficial (4,5%), mas também da inflação mundial (3,9%) e da inflação média dos países latino-americanos (5,6%). Também cita o ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC Alexandre Schwartsman como defensor do mérito que um ajuste fiscal teria para desvalorizar o real.

No momento, há ¿uma enxurrada¿ de dólares no Brasil, disse Reis Velloso, na edição do Fórum realizada de segunda-feira a quinta-feira, comentando que o governo pode estar tentando ¿conter uma enxurrada (comprando dólares para as reservas) sob o pretexto de melhorar a cotação de risco do País¿. Segundo ele, ¿quando há uma enxurrada, a gente sai da frente¿.

Para os setores mais afetados pelo câmbio, Velloso sugere um programa de melhora de competitividade e modernização tecnológica, além de apoio financeiro e ¿desoneração de tributos¿, entre outras. Para o ex-ministro, há ¿inúmeros setores¿, entre os quais eletroeletrônicos, precisam se modernizar.

O ex-ministro também defende as propostas da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB) de elaboração de uma estratégia para as exportações, incluindo a desburocratização e a desoneração tributária. Para ele, o País deve apoiar a produção e exportação de bens de alta tecnologia.