Título: Rússia impede opositores de viajar
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Fonte: O Estado de São Paulo, 19/05/2007, Internacional, p. A21

Opositores russos foram impedidos ontem pela polícia de viajar até a cidade de Samara, no sudeste do país, onde participariam de uma manifestação contra o governo durante a cúpula entre Rússia e União Européia. A proibição foi criticada pela chanceler alemã, Angela Merkel, que ocupa atualmente a presidência rotativa do bloco. Em um encontro tenso, russos e europeus não conseguiram fechar um acordo de parceria.

Garry Kasparov, líder da oposição e ex-campeão mundial de xadrez, ativistas e jornalistas russos e estrangeiros souberam da restrição momentos antes de embarcar no aeroporto Sheremetyevo, em Moscou.

Autoridades do aeroporto confiscaram as passagens e identificações pessoais, afirmando que ¿alguns documentos¿ eram falsos. Os documentos só foram devolvidos após a decolagem do último vôo do dia para Samara, um balneário a mil quilômetros de Moscou. Apesar da proibição, cerca de 100 manifestantes conseguiram realizar o protesto na cidade, em meio a um forte esquema policial.

O episódio criou ainda mais tensão no encontro. ¿Estou preocupada com o fato de algumas pessoas terem dificuldades de viajar para cá. Espero que elas tenham a oportunidade de expressar sua opinião¿, alertou Merkel. O presidente russo, Vladimir Putin, rebateu as críticas, afirmando que ¿as polícias de praticamente todos os países realizam prisões preventivas; há vários exemplos na Alemanha.¿

TENSÃO

A troca de acusações marcou o encontro de Samara, onde os europeus esperavam amenizar as recentes tensões com a Rússia. Um dos assuntos que emperraram as negociações foi a proibição russa de importação de carnes da Polônia imposta em 2005. Os russos alegam razões sanitárias, mas a Polônia acusou Moscou de motivação política. O governo polonês vetou qualquer acordo entre a UE e a Rússia até que a questão seja resolvida.

A recente crise entre a Rússia e a Estônia também dominou a cúpula. Putin acusou o governo estoniano de violar os direitos humanos da minoria russa no país. No mês passado, um manifestante pró-Rússia morreu em violentos protestos na Estônia, após o governo decidir remover um monumento soviético. ¿Acreditamos que isso seja inaceitável na Europa¿, acusou o presidente russo.

A UE, no entanto, deixou claro para o governo russo que o bloco apóia todos os seus membros. ¿O problema polonês é um problema europeu. O problema da Estônia também é uma questão européia¿, alertou o presidente da Comissão Européia, José Manuel Barroso.

Barroso disse ainda que ¿democracia, liberdade de imprensa e de expressão¿ são valores importantes para UE, em clara referência ao crescente autoritarismo do governo russo.

Os europeus deixaram Samara sem conseguir fechar também um acordo sobre energia. Os russos controlam atualmente 25% dos fornecimento de gás natural para o bloco. A UE queria garantias do governo russo de que o abastecimento não seria interrompido (leia ao lado).

Apesar da falta de acordos consistentes, russos e europeus ressaltaram que as divergências não afetam a base da relação entre as duas partes. ¿A existência de problemas não significa uma crise profunda¿, afirmou o vice-porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. Na terça-feira, a visita da secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, também terminou sem acordos.