Título: EUA querem fugir de acordo no G-8
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Fonte: O Estado de São Paulo, 12/05/2007, Vida&, p. A27
Os Estados Unidos se movimentam para evitar que o próximo encontro do G-8 (grupo dos sete países mais ricos e a Rússia), que acontece na Alemanha, termine com uma declaração dura sobre o aquecimento global, como espera a primeira-ministra alemã, Angela Merkel. Segundo memorando interno, o governo americano vai se opor ao comprometimento mundial de corte de 50% na emissão de gases-estufa, em relação aos níveis de 1990, até 2050.
Os Estados Unidos são a principal fonte desses gases, contudo o presidente George W. Bush é contrário a medidas internacionais de controle, como o Protocolo de Kyoto. Ele tem sofrido uma pressão crescente dos países europeus, especialmente após a divulgação, neste ano, do novo relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).
No documento, a administração americana questiona a meta e a capacidade de as Nações Unidas de levarem tal discussão adiante. ¿Eles rejeitam qualquer menção a metas e prazos, não querem que a ONU se envolva mais e se recusam a endossar o mercado de carbono, porque ele por definição envolve metas¿, disse uma fonte do governo à agência de notícias Reuters, que pediu anonimato.
Merkel, que preside o G-8 neste ano, reafirmou ontem seu objetivo de colocar a questão ambiental na pauta de prioridades em junho, quando os líderes dos países mais ricos do mundo. ¿Sem que os países industrializados dêem um exemplo positivo, não há possibilidades de envolver os países em desenvolvimento¿, afirmou.
Os Estados Unidos alegam que não assumirão metas de redução sem uma contrapartida de países emergentes, especialmente China (que deve se tornar o maior emissor de gases-estufa nos próximos um ou dois anos), Índia e Brasil. Segundo outro funcionário do governo americano, a posição americana sobre a questão climática pode provocar um cisma no G-8. ¿Eles estão jogando pôquer seriamente, o que é muito desapontador nesse estágio, dado a escala do problema¿, disse à Reuters. ¿Uma questão em aberto é se Merkel está preparada para aceitar uma declaração sem peso ou se vai romper com a tradição do G-8 e declarar a derrota para a mudança climática. Seja como for, a tinta ainda estará molhada quando sair a declaração final.¿
O encontro pode servir de base para um acordo que substitua Kyoto a partir de 2013 - uma vez que o protocolo está muito aquém do necessário para que o mundo contorne o problema. Por outro lado, um fracasso na Alemanha pode atrasar as negociações.