Título: Inovação para competir
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/05/2007, Notas e Informações, p. A3
A nata das empresas brasileiras, um pequeno grupo empenhado na inovação dos produtos e do processo produtivo, responde por um terço do valor das exportações, cria mais empregos e paga salários 67% maiores, em média, que os das companhias de nível-padrão. Esse grupo inclui empresas como Embraer, Gerdau, Weg, Marcopolo e Suzano, entre outras, e corresponde a apenas 4,6% das 15.737 indústrias de capital majoritariamente brasileiro analisadas em recente pesquisa do Observatório da Inovação. Essas companhias não são a nata apenas do Brasil. São também líderes na América Latina, pois o esforço inovador das empresas de capital brasileiro supera o das indústrias do México e da Argentina, segundo o estudo.
O Observatório da Inovação é vinculado ao Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e ao Instituto de Estudos Avançados da USP. Seu coordenador, o sociólogo Glauco Arbix, presidiu o Ipea no primeiro mandato do presidente Lula. Seu objeto de estudos é uma atividade de importância vital para o crescimento econômico e para a inserção global do Brasil. O sucesso obtido em todos os mercados por aquele pequeno grupo inovador deveria ser suficiente para indicar o caminho às empresas e ao governo.
Inovação, naquele estudo, inclui tanto a compra de equipamentos mais modernos quanto a produção de conhecimentos e outras atividades necessárias à melhora dos padrões produtivos. A elite das empresas brasileiras investe 1,4% de seu faturamento nesse conjunto de itens. As companhias argentinas mais inovadoras gastam 1,08% de sua receita nesses itens. Nas indústrias de capital mexicano, essa parcela não passa de 0,81%.
Mas o esforço das empresas brasileiras só se destaca no cenário regional. Na Alemanha, as companhias mais dinâmicas aplicam 2,7% de seu faturamento em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias. Na França o investimento é pouco menor, 2,5%, mas ainda bem superior ao observado no Brasil.
Essa comparação é da maior importância para a definição de políticas de tecnologia. Se o Brasil pretende conquistar espaço no primeiro time da economia mundial, tem de adotar estratégias comparáveis às dos grandes centros criadores de conhecimentos aplicados à produção. Isso exige tempo e recursos, naturalmente, mas o primeiro passo tem de ser uma definição de estratégias de longo prazo.
O governo tem adotado medidas tributárias para estimular a modernização das empresas e a inovação tecnológica. À primeira vista, segue um caminho parecido com aquele escolhido nas economias do Primeiro Mundo. Mas a semelhança é superficial e enganadora.
Nos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, as empresas foram responsáveis, em 2001, por 69% dos gastos em pesquisa e desenvolvimento. As universidades encarregaram-se de aplicar 17,4% do total, enquanto o governo respondeu por 10,5% e 2,8% couberam a entidades privadas não lucrativas. Há diferenças entre as políticas adotadas nos vários países, mas, de modo geral, o setor público participa do esforço com financiamentos diretos e por meio de parcerias e de incentivos fiscais.
Em 2005, a Lei 11.196 consolidou e atualizou, no Brasil, as facilidades fiscais. Houve avanços, mas os benefícios apenas aliviam uma carga tributária excessiva - muito maior que a da maior parte das economias industrializadas e em desenvolvimento. A mera aquisição de equipamentos modernos, embora favorecida por modestos incentivos federais, ainda é onerada por uma tributação estadual exagerada.
Modernização do sistema produtivo depende também da qualidade da mão-de-obra disponível. A política educacional brasileira tem sido incapaz de proporcionar a formação necessária aos trabalhadores de uma economia industrializada e dinâmica.
Por enquanto, o maior incentivo à transformação das indústrias, no Brasil, parece ter sido mesmo a exposição à concorrência internacional. Esse estímulo é importante, mas seu efeito é limitado quando as empresas têm de operar num ambiente desfavorável, com infra-estrutura deficiente, impostos excessivos e pouco funcionais, crédito limitado e padrões educacionais inadequados. Se o setor público fizer sua parte, as empresas farão muito mais.