Título: Polícia Federal investiga ligação de Silas Rondeau com máfia das obras
Autor: Mendes, Vannildo e Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/05/2007, Nacional, p. A4

O ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, foi investigado na Operação Navalha por suspeita de corrupção passiva. Uma fonte da Polícia Federal ouvida ontem pelo Estado confirmou que Rondeau - que entrou no governo por indicação do PMDB - foi monitorado pela suspeita de ter sido recompensado pela construtora Gautama - a principal empresa do esquema - supostamente por ter conseguido liberação de recursos para obras do Programa Luz para Todos no Piauí.

Embora a PF não tenha conseguido reunir elementos suficientes que embasassem o pedido de prisão preventiva do ministro, o policial explicou que Rondeau ainda não está livre da investigação e poderá ser indiciado, o que dependerá da análise dos documentos apreendidos na última quinta-feira.

Segundo a PF, gravações feitas com autorização judicial indicavam que teria sido entregue no ministério uma quantia em dinheiro - a suspeita é de que seriam R$ 100 mil - de uma emissária da Gautama. A polícia tem o filme do momento em que a funcionária entrou no ministério, com um envelope, supostamente com o dinheiro da propina. Numa cena seguinte, ela sai sem ele. De acordo com a polícia, quem recebeu o dinheiro foi o assessor especial do ministro, Ivo Almeida Costa, que foi preso no início da operação. O dinheiro foi entregue na sala contígua à do ministro.

Entre os documentos que serão investigados para tentar aprofundar as investigações sobre Silas Rondeau estão agendas e outros documentos de Ivo Costa. Se a investigação avançar no possível envolvimento de Rondeau no esquema montado pelo empresário Zuleido Soares Veras, dono da Gautama, o caso terá que ser remetido ao Supremo Tribunal Federal (STF), o foro de investigação de ministros.

¿À VONTADE¿

Numa entrevista em Assunção, no Paraguai, onde acompanha a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Silas Rondeau disse que permanecerá no cargo até o momento em que Lula quiser. ¿Não existe nada que venha a me comprometer¿, afirmou. ¿Estou absolutamente à vontade até o momento em que o presidente, que é dono do cargo, decidir.¿ Ele disse que ainda não conversou com Lula a respeito do assunto.

Ivo Costa, assessor do ministro, é um dos 46 suspeitos que a PF deteve na última quinta-feira. Entre os projetos que tiveram recursos desviados, de que eles teriam participado, estavam os do Programa Luz Para Todos, sob responsabilidade do Ministério de Minas e Energia. Rondeau disse desconhecer o assunto. ¿Desconheço essa informação. A Polícia Federal e o Ministério Público elucidarão essa questão.¿

No entanto, depois de várias alegações de desconhecer o caso, o ministro acabou admitindo que conhece o assunto. ¿Não há uma prova (do pagamento dos R$ 100 mil) porque é uma mentira¿, disse. ¿Pode haver uma suposição. Eu não acredito que a Polícia Federal tenha dito isso.¿ Mais adiante, mudou de tom para acrescentar: ¿Esse é um processo que está correndo em segredo de Justiça. Não posso dar detalhes.¿

O ministro definiu a Operação Navalha como ¿uma pauta negativa que se sobrepõe a uma pauta positiva do País.¿ Ele afirmou, também, que as investigações não atrapalharão o ritmo de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). ¿O PAC está muito acima de um prefeito, de um assessor ou de qualquer ilação. O PAC é maior do que a navalha.¿ Segundo fontes ligadas ao Ministério, Rondeau teria sido orientado pelo ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, a falar sobre as denúncias.

FRASES

Silas Rondeau Ministro de Minas e Energia

¿Não existe nada que venha a me comprometer. Estou absolutamente à vontade

até o momento em que o presidente, que é dono do cargo, decidir¿

¿Não há uma prova porque é uma mentira. Pode haver uma suposição. Eu não acredito que a Polícia Federal tenha dito isso¿

¿Esse é um processo que está correndo em segredo de Justiça. Não posso dar detalhes¿.