Título: Operação da PF causa nervosismo no Congresso
Autor: Samarco, Christiane e Paraguassú, Lisandra
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/05/2007, Nacional, p. A8

A Operação Navalha começou de madrugada em Brasília e levou nervosismo ao Congresso. Foram raros os parlamentares que manifestaram satisfação com o envolvimento de adversários, mas houve quem lamentasse a prisão de conhecidos.

Os policiais foram convocados pela cúpula da PF às 2h30 de ontem. Meia hora depois, estavam concentrados no prédio-sede. A partir do momento em que vazou a lista de prisões a serem feitas, com nomes de políticos de expressão, houve apreensão no Congresso e na Câmara Distrital. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ouviu de um colega que ninguém teria o que comemorar, porque ninguém sabe ¿onde essa história vai parar¿.

Renan só chegou ao Congresso no fim da tarde, depois de trocar telefonemas com o governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho (PSDB), aliado que teve um secretário preso. O que mais preocupava o senador era a notícia de sua amizade com Zuleido Soares Veras, dono da Gautama. ¿Você pode ter amizade, mas não quer dizer que se é amigo de práticas criminosas¿, disse. Em seguida, observou que não sabia ¿a extensão dessa história¿ e não queria ¿prejulgar ninguém¿.

A amizade entre os dois tornou-se pública em 2001, em discussão com o senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA). ¿Tenho um genro na OAS, mas vossa excelência tem amigos empreiteiros com quem tem muito mais intimidade do que eu com a OAS¿, disse ACM. ¿Mais do que vossa excelência com a OAS, ninguém tem¿, retrucou Renan. O baiano devolveu: ¿Vossa excelência conhece o Zuleido Gautama, não é? Então, com isso está dito.¿

O senador José Sarney (PMDB-AP) e a líder do governo no Congresso, Roseana Sarney (PMDB-MA), recusaram-se a comentar a Operação Navalha. Embora a PF tenha prendido o maior adversário de ambos no Maranhão, o ex-governador José Reinaldo Tavares (PSB), o PMDB dos Sarney preferiu se calar. Ajuda a entender a cautela o fato de outro preso, assessor do Ministério das Minas e Energia, ter sido indicado por Sarney e Renan. Nesse caso, quem comemorou foi o PMDB da Câmara, que disputa cargos no setor elétrico com a bancada do Senado e acredita que ficará mais fácil emplacar nomes.

No DEM, a pergunta recorrente era por que a operação foi deflagrada agora, quando começam as CPIs do Apagão Aéreo. O presidente, Rodrigo Maia (RJ), defendeu a atuação da PF no combate à corrupção, mas solidarizou-se com o ex-governador João Alves, que é de seu partido e teve um filho preso. ¿É um homem sério e de bem¿, disse.

As ações da operação da PF prosseguiram até tarde da noite ontem. Para os últimos minutos do dia era esperada a chegada a Brasília do avião da corporação lotado com 23 presos recolhidos em diversas capitais.