Título: Jorge: 'Empresa obsoleta vai morrer'
Autor: Veríssimo, Renata e Oliveira, Ribamar
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/05/2007, Economia, p. B3

Empresas obsoletas poderão 'morrer' com a valorização do real, disse ontem o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge. 'Eu acredito que um número mínimo de empresas - as mais velhas, as mais obsoletas, as que não investiram, as que têm problemas de velhos equipamentos - pode morrer nesse processo, o que é normal em todo a economia, como aconteceu com os bancos que morreram no fim do período de hiperinflação', comentou Jorge.

Nos anos 90, a queda drástica da inflação pôs o setor financeiro em dificuldades e instituições como o Banco Nacional e o Banco Econômico não sobreviveram. Apesar do alarme com a valorização do real ante o dólar, o governo deverá elevar a projeção de exportações deste ano, atualmente em US$ 152 bilhões.

A avaliação foi feita durante a 21ª reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES). No mesmo evento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva relacionou a taxa de câmbio como um dos problemas que o governo precisa resolver.'E nós temos problemas para resolver? Temos. Eu sei que nós precisamos encontrar uma solução para algumas coisas, para o câmbio, por exemplo', comentou o presidente.

Lula observou que, havia cinco anos, 'o governo precisava correr, todo fim de ano, para pegar uns míseros dólares para resolver as suas contas'. A situação atual, segundo ele, é o inverso. 'Hoje, o nosso problema é excesso de entrada de dólares.'

O presidente lembrou que, atualmente, os juros estão mais baratos que os daquela época. 'Então, não era só a questão de juros que fomentava a entrada de dólar.'

Ele garantiu que o governo vai ajudar as empresas que estão enfrentando dificuldades, em razão da atual valorização do real. 'Nós temos que nos preocupar com as empresas brasileiras. Tem setores que vão perdendo competitividade, nós temos de cuidar.'

A ajuda, segundo Miguel Jorge, virá na liberação mais rápida de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Também está em análise a elevação da tarifa de importação dos móveis para 35%, a exemplo do que já foi feito para confecções e calçados.

COBRANÇA

O presidente cobrou dos empresários mais investimentos em inovação tecnológica. 'Uma forma de ser competitivo é ter investimento em tecnologia, ser competitivo na qualidade.' Lula disse também que os integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) poderão dar 'um contribuição extraordinária' com sugestões para resolver esses problemas.

O presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, teve um rápido encontro com Lula antes da reunião do CDES para discutir câmbio. Ao sair, ele disse que é preciso 'encontrar caminhos' para enfrentar o problema.

Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro, neste momento o Banco Central precisa 'acelerar o processo de redução dos juros', pois a queda mais rápida da taxa desestimularia o ingresso de recursos especulativos no Brasil, em busca de ganhos por meio da arbitragem de juros.

Já o presidente da Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias. de Base (Abdib), Paulo Godoy, defende a escolha de alguns setores estratégicos, que teriam a ajuda do governo para enfrentar as adversidades decorrentes do câmbio, 'sem reserva de mercado e sem coibir a competitividade'.