Título: CPI do Apagão decide investigar Infraero só no fim dos trabalhos
Autor: Lopes, Eugênia e Madueño, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/05/2007, Nacional, p. A4

Alvo de denúncias de corrupção, superfaturamento de contratos e desvio de recursos, a Infraero - estatal responsável pela administração dos aeroportos - deverá ser poupada nas investigações da CPI do Apagão Aéreo na Câmara. Pelo calendário apresentado ontem pelo relator da comissão, deputado Marco Maia (PT-RS), o foco das apurações no primeiro mês será o acidente entre o Boeing da Gol e o Legacy da ExcelAir, em 29 de setembro, quando 154 morreram. A previsão é de que a CPI termine no dia 11 de setembro.

A primeira reunião de trabalho da comissão durou mais de quatro horas e foi tranqüila. Entre titulares e suplentes, 25 deputados fizeram questão de discursar. Os governistas mostraram-se céticos sobre as investigações. ¿A intimidade que a maioria dos deputados aqui da CPI tem com tráfego aéreo é a mesma que eu tenho com a Cláudia Raia: nenhuma¿, brincou Silvio Costa (PMN-PE). ¿Se há mais de seis meses especialistas em tráfego aéreo não conseguiram descobrir a causa do acidente da Gol, como é que esta CPI vai encontrar uma resposta em quatro meses?¿

¿O acidente com o avião da Gol é o fato mais importante na mensuração da crise do setor aéreo. Mas não é o início da crise: ele é o sintoma da crise do setor¿, afirmou Marco Maia, ao apresentar seu roteiro de trabalho. À exceção do PSOL, os parlamentares aliados e de oposição concordaram em que as investigações comecem pelo acidente com o avião da Gol.

Pelo cronograma do relator, a comissão vai se dedicar a investigar a Infraero somente em setembro, mês do encerramento dos trabalhos. ¿A CPI é do tráfego aéreo, não é da Infraero¿, argumentou o presidente da comissão, Marcelo Castro (PMDB-PI).

Os primeiros requerimentos deverão ser votados hoje. A previsão é que na semana que vem ocorram dois depoimentos: do delegado Renato Sayão Dias, da Polícia Federal, responsável pelo inquérito do acidente aéreo, e do coronel Rufino Antônio da Silva Ferreira, que preside a comissão da Aeronáutica que investiga o caso.

Marco Maia dividiu os trabalhos da CPI do Apagão Aéreo em cinco etapas. As duas primeiras, que vão até 24 de junho, tratarão do acidente da Gol e dos problemas de controle de tráfego aéreo.

A terceira etapa, que vai durar 26 dias, será dedicada às investigações do papel das empresas aéreas na crise do setor, como a venda excessiva de passagens em relação à disponibilidade - o chamado overbooking. Nessa terceira etapa, a CPI vai parar por 15 dias, durante o recesso do Legislativo.

De acordo com o roteiro do relator, as investigações sobre a infra-estrutura nos aeroportos irão do dia 2 ao dia 27 de agosto. Os últimos 15 dias da comissão - de 28 de agosto a 11 de setembro - serão usados para a elaboração e votação do relatório final. ¿Esse roteiro não tem o intuito de amarrar as discussões da CPI¿, afirmou Marco Maia.

¿Esta é uma CPI desnecessária¿, criticou o deputado Carlos William (PTC-MG), que foi relator no fim do ano passado de uma comissão externa para apurar as causas do acidente da Gol e não conseguiu chegar a nenhuma conclusão. ¿Os passageiros não querem saber de fortunas e desvios que foram pagos nos aeroportos. Eles querem chegar ao aeroporto e embarcar¿, disse o deputado Sabino Castelo Branco (PTB-AM), que entrou ontem na CPI no lugar de Pedro Fernandes (PTB-MA).

¿Dificilmente vamos conseguir saber mais sobre o acidente da Gol do que a Polícia Federal e a Aeronáutica¿, observou o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ). Ele propôs que, paralelamente às investigações da CPI, a comissão desenvolva um trabalho para facilitar a vida dos passageiros com a criação de um setor de informações dentro das salas de embarque dos aeroportos. ¿Com isso, conquistaríamos a opinião pública para a seriedade de nosso trabalho¿, afirmou Gabeira.