Título: Juiz chama de 'canalhas' policiais que o acusaram
Autor: Auler, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2007, Nacional, p. A6

O juiz federal Durval Carneiro Neto, da Vara de Lavagem de Dinheiro e Crimes Financeiros na Bahia, acusou ontem a Polícia Federal de ter feito ¿trapalhadas¿ na Operação Navalha. Ele chamou de ¿canalhas, covardes¿ os policiais da Divisão de Contra-Inteligência da PF que atribuíram a ele o vazamento de informações. ¿Além de inverídico isso é criminoso¿, desabafou o juiz que deu início à investigação.

Carneiro Neto, que é também professor universitário e mestre em Direito Público, disse que ¿dorme mal, chora de revolta, tomado de angústia sem fim¿ desde que a PF divulgou suspeita sobre sua conduta. ¿Na faculdade percebo alunos cochichando pelos cantos. No meu condomínio é o que se comenta. É um tumulto na minha vida¿, contou. ¿Estou revoltado com tamanha covardia. Colaborei ao máximo para que a PF realizasse um trabalho correto, sempre dentro da legalidade. Mas tive de indeferir muitos pedidos e isso os irritou. Entendo por que o vice-presidente do STF, Gilmar Mendes, falou em canalhice.¿

O juiz declarou que Zuleido Veras, dono da Construtora Gautama, só caiu na Navalha quando um grampo - que ele autorizou - o pegou bancando a festa da posse de um superintendente da PF. ¿O que é mais chocante é que Zuleido estava sendo investigado pela PF¿, revela o juiz, que mandou instalar escuta nos gabinetes de três superintendentes da PF, na Bahia, no Ceará e em Sergipe.

Segundo a PF, o vazamento teria beneficiado o ex-superintendente na Bahia Paulo Bezerra que atualmente é secretário da Segurança Pública do governo Jaques Wagner (PT). ¿É uma acusação irresponsável de delegados da Contra-Inteligência¿, reagiu o juiz, de 34 anos, na carreira desde 2001.

¿A Operação Navalha foi deflagrada por ordem minha, a pedido do Ministério Público, com a finalidade exclusiva de investigar policiais federais¿, contou Carneiro Neto. ¿Daí o nome navalha, porque se buscava cortar na própria carne da PF. Mas a navalha foi um fiasco, ficou cega. Estranho que não exista um único policial entre os 47 presos¿, ironizou.

¿Encaminhei as provas a Brasília e informei a Contra-Inteligência. Aí a PF vazou. Foi em maio de 2006. A informação vazou dentro da cúpula da própria PF¿, disse. ¿Os superintendentes foram apenas admoestados. Eles foram avisados. Isso frustrou qualquer investigação.¿

Ele revelou que em abril de 2006 a Contra-Inteligência fez uma ¿operação desastrosa¿ no aeroporto de Salvador e teve dois de seus agentes presos pela PF local.