Título: Uribe quer anistia a políticos presos
Autor: Costas, Ruth
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2007, Internacional, p. A14

Pouco mais de uma semana depois de o ex-líder paramilitar Salvatore Mancuso acusar altos escalões do governo colombiano de ligações com suas milícias, o presidente Álvaro Uribe propôs perdoar os políticos que já estão presos por este crime se eles concordarem em contar ¿toda a verdade¿ nos tribunais. ¿Temos de estar preparados para dar o benefício da liberdade para aqueles que confessem a verdade¿, disse Uribe, explicando, mais tarde, que isso não seria uma anistia porque os condenados ficariam em prisão domiciliar e perderiam o direito de se candidatar. A medida também beneficiaria empresários e fazendeiros ligados aos paramilitares.

A declaração, feita na quarta-feira, reforçou as críticas contra o governo Uribe, que vive a pior crise institucional de seus dois mandatos por causa do escândalo sobre as ligações de políticos governistas com grupos paramilitares de ultradireita, responsáveis por seqüestros, extorsões e massacres na Colômbia nos últimos 20 anos. ¿O presidente quer apenas livrar seus amigos que estão presos¿, disparou o senador Gustavo Petro, do oposicionista Pólo Democrático. O Partido Liberal, também da oposição, qualificou a proposta como ¿suspeita¿, enquanto organizações humanitárias emitiram comunicados se dizendo ¿preocupadas¿.

Desde novembro, 2 governadores e 13 congressistas governistas, além de prefeitos e ex-prefeitos, foram presos por supostos vínculos com milícias paramilitares e outras dezenas de políticos estão sendo investigados. Boa parte deles assinou em julho de 2001 o Acordo de Ralito, pelo qual se comprometiam a ¿refundar o país¿ com tais grupos, criados na década de 80 para combater grupos guerrilheiros de esquerda como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Outros tantos tinham seu nome num computador do líder paramilitar Rodrigo Tovar Pupo, o Jorge 40, onde a polícia encontrou uma lista de 558 pessoas assassinadas, entidades estatais controladas pela milícia e prefeitos e governadores que colaboram com ela.

A crise chegou ao núcleo do governo na semana passada, quando o vice-presidente, Francisco Santos, e o ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, foram acusados por Mancuso, num tribunal, de terem participado de reuniões com seus esquadrões entre 1996 e 1997 e conspirar contra o então presidente Ernesto Samper. ¿O presidente está visivelmente desnorteado pelo escândalo, embora ainda não tenha afetado a sua popularidade¿, disse ao Estado o ex-chanceler Augusto Ramirez, que hoje dirige o Instituto de Direitos Humanos e Relações Internacionais da Universidade Javeriana.

Ainda ontem, um ex-chefe do DAS, a principal agência de inteligência da Colômbia, Jorge Noguera, denunciou a existência de um documento que provaria a existência de vínculos de políticos com as Farc. Noguera ajudou a coordenar a campanha de Uribe em 2002 e ficou preso durante um mês, entre fevereiro e março, acusado de colocar o DAS a serviço dos paramilitares quando estava à frente do órgão.

POLÍTICOS ENVOLVIDOS

Álvaro Araújo: senador do departamento de Cesar. Preso sob a acusação de ter recebido financiamento de campanha das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC).

Álvaro Araújo Nogueira: Ex-ministro acusado de supostos vínculos com os paramilitares. Pai do senador Araújo. Está foragido.

María Consuelo Araújo: Ex-chanceler, filha de Araújo Nogueira. Após as denúncias contra sua família, renunciou ao cargo.

Hernando Molina: Governador suspenso do departamento de César. Preso por acusação de associação criminosa com as AUC.

Trino Luna: Ex-governador do departamento de Magdalena. Preso por suposta ligação com um líder paramilitar.