Título: Siglas ociosas
Autor: Ming, Celso
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2007, Economia, p. B2

Missão do FMI chega ao País. E ninguém liga - foi o título, que diz tudo, de uma matéria publicada ontem na seção de Economia do Estadão.

Enfim, o rali de ontem, hoje não passa de operação rotineira. Mas isso não ocorre só aqui. Em toda parte pipoca a pergunta inevitável: para que servem o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, as instituições gêmeas criadas em Bretton Woods, em 1944, para organizar a economia mundial do pós-guerra?

Essa pergunta envolve também a Organização Mundial do Comércio (OMC), sucessora do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (Gatt), de 1947, cuja função é garantir jogo limpo no comércio mundial. Como as negociações para um acordo multilateral de abertura comercial estão empacadas, se tudo acabar em impasse, a OMC também corre o risco de se mumificar.

Um a um, os países em desenvolvimento que ainda devem ao FMI vão devolvendo os empréstimos, afirmam que já não precisam de salva-vidas e dispensam orgulhosamente suas intromissões na política econômica.

Como acontece com o Brasil, a maioria desses países deixou a condição de devedor e é agora credora dos países ricos: suas imensas reservas estão aplicadas em títulos do Tesouro das grandes potências.

A equipe do Fundo, ora em romaria por repartições públicas de Brasília, parece ter-se transformado em grupo de pesquisadores de luxo. Correm atrás de estatísticas, sabe-se lá para quê, dado que a maioria dos números está disponível na internet e, se não estivesse, poderia ser remetida para qualquer endereço a um clique de computador.

A própria administração dos Estados Unidos não parece satisfeita com as atuações do Fundo e do Banco Mundial. Entende que devessem ser mais firmes e coibir práticas heterodoxas de potências asiáticas.

O New York Times de quarta-feira também se mostrou impressionado com o esvaziamento dessas instituições. Citou o ex-secretário do Tesouro americano Robert Rubin, hoje no Citigroup, para quem estão 'fora de moda e precisam ser repensadas'.

O Banco Mundial foi criado para financiar a reconstrução da Europa destruída pela guerra e, em seguida, proveu fundos para o ataque à pobreza. Hoje, parece sem rumo.

Só para a China, que tem reservas de US$ 1,1 trilhão, o Banco Mundial mantém empréstimos de US$ 40 bilhões em 174 projetos. Uma comissão do Congresso dos Estados Unidos, conta o New York Times, concluiu que o Banco Mundial devesse se preocupar só com resgate dos países mais pobres, para os quais devesse transferir recursos a fundo perdido, e não como empréstimos.

Mais do que isso, os países da América do Sul, liderados pela Venezuela e com certa anuência do Brasil, discutem hoje a criação de uma instituição especial, o Banco do Sul, que pretende substituir o FMI e o Banco Mundial na concessão de fundos destinados a resgatar um país sócio de alguma encrenca fiscal e para o financiamento de projetos de desenvolvimento.

Enfim, as grandes potências que criaram essas instituições hoje sexagenárias, já não sabem que função atribuir a elas.