Título: Governo consegue vetar acesso da CPI a auditorias
Autor: Mendes, Vannildo e Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/05/2007, Nacional, p. A4

O governo usou ¿rolo compressor¿ e conseguiu impedir ontem a votação na CPI do Apagão Aéreo da Câmara de requerimento com pedido para ter acesso a auditorias realizadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) que envolvam segurança e controle do tráfego aéreo. Essas auditorias apontam irregularidades em empresas como a Infraero (responsável pela administração dos aeroportos), na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e na Aeronáutica. Neste primeiro embate entre aliados e oposição, o governo mostrou sua força na CPI: foram 15 votos contra a inclusão na pauta de votação do requerimento apresentado pela oposição e 9 a favor.

¿Aquilo que não se fizer aqui, haverá pressão para que se faça na CPI do Apagão no Senado¿, disse o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), autor do requerimento.

¿Nossa preocupação é não transformar esta CPI em uma comissão que trata de todos os assuntos, menos do apagão aéreo¿, argumentou o presidente da comissão, deputado Marcelo Castro (PMDB-PI). ¿Querem fazer uma luta política intestina aqui na CPI¿, disse o deputado André Vargas (PT-PR).

Na segunda sessão administrativa da CPI do Apagão, os deputados não votaram nenhum requerimento - a única votação foi o pedido de inclusão na pauta do requerimento de Fruet.

Na maior parte da sessão, que durou cerca de 1 hora e meia, aliados e oposição bateram boca sobre o caso envolvendo o vôo do papa Bento XVI de volta à Itália. O relator da CPI, deputado Marco Maia (PT-RS), divulgou documento enviado pelo Comando da Aeronáutica com a transcrição dos diálogos entre o piloto do Boeing da Alitalia, que levou o papa, o controlador do Cindacta 3, no Recife, e o piloto de um vôo da TAM.

A transcrição dos diálogos mostra que não houve falha no equipamento de controle aéreo, mas na comunicação entre o piloto da Alitalia e o controlador de vôo. Fica claro que o controlador não entende o que dizia em inglês o piloto. O comandante da Alitalia tentou oito vezes explicar ao controlador que o papa queria mandar uma mensagem para o presidente Lula. O piloto perguntava se o controlador iria gravar ou escrever à mão a mensagem e em qual freqüência deveria transmitir o recado do papa.

Um piloto da TAM interferiu e perguntou ao controlador se ele estava entendendo que o papa queria passar uma mensagem para o presidente. Só então o controlador entrou em contato com o piloto da Alitalia e deu sinal verde para que a mensagem fosse transmitida.

Os diálogos foram lidos na CPI pelo deputado Vic Pires Franco (DEM-PA), que sugeriu que a Aeronáutica ofereça cursos de inglês aos controladores. Vic Pires fez questão de ler a transcrição dos diálogos em inglês fluente. Irritado, o deputado Wladimir Costa (PMDB-PA) protestou: ¿Não temos de ficar discutindo isso aqui. Daqui a pouco vão querer convocar o papa para vir à CPI dizer se é verdade essa história da mensagem¿. ¿Da próxima vez, que o papa use o celular para falar com o presidente¿, disse Costa.