Título: Sarkozy assume e busca relançar UE
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/05/2007, Internacional, p. A12

A França virou na manhã de ontem uma página de sua história. Nicolas Sarkozy, de 52 anos, eleito em 6 de maio com 19 milhões de votos, assumiu a presidência, em Paris, numa cerimônia que se prolongou por quatro horas e paralisou a Avenida Champs-Elysées. Austero todo o tempo, o novo chefe de Estado não se intimidou com as ameaças terroristas feitas na véspera por um grupo ligado à Al-Qaeda, desfilou em carro aberto e discursou em público em duas ocasiões, nas quais reafirmou seus compromissos de campanha: reformas econômicas, valorização da identidade nacional e ¿relançamento¿ da União Européia (UE).

Antes da posse, Sarkozy se reuniu por meia hora, a portas fechadas, com o presidente Jacques Chirac - que lhe transmitiu informações confidenciais, entre as quais o código secreto de acionamento do arsenal nuclear do país. Após despedir-se de Chirac, Sarkozy recebeu do presidente do Conselho Constitucional, Jean-Louis Debré, o colar de Grande Mestre da Legião de Honra, a medalha que distingue o presidente.

Em seu discurso - pouco diferente do primeiro, feito aos militantes da União por um Movimento Popular (UMP) no dia de sua eleição -, na Sala Gaveau, em Paris, Sarkozy reiterou os temas que o levaram ao Eliseu. Falou em reformas do Estado, preservar o meio ambiente, defender a identidade francesa e lutar pelo desenvolvimento da África, cuja miséria, acredita, está na raiz da imigração clandestina para a Europa. ¿Os franceses estão cansados de tanto sacrifício que lhes impomos sem resultado. Eu vou buscar os resultados¿, afirmou.

Tão logo encerrou sua fala, Sarkozy se dirigiu à mulher, Cécilia, a quem beijou, e ao filho Louis (leia abaixo), numa imagem que lhe rendeu associações ao estilo do ex-presidente americano John Kennedy e do primeiro-ministro britânico,Tony Blair. Cumprimentou os convidados, ouviu o hino nacional e recolheu-se para o primeiro almoço no palácio, restrito à família.

À tarde, Sarkozy viajou para a Alemanha, onde declarou que é ¿urgente tirar a Europa da paralisia¿, durante encontro com a chanceler alemã, Angela Merkel. Sarkozy disse que sua visita a Berlim, horas após assumir o cargo, não era só um gesto simbólico, mas uma forma de lançar uma mensagem política aos demais membros da União Européia. ¿Quis expressar meu desejo de que comecemos a trabalhar imediatamente¿, disse Sarkozy, considerando que a UE vive um período de inércia após a França e a Holanda não ratificarem a Constituição Européia em seus referendos.

Merkel, que conduz a presidência rotativa da UE neste semestre, disse que ela e Sarkozy trabalharão juntos visando à cúpula de chefes de Estado e governo, programada para 21 e 22 de junho, em Bruxelas.

A chanceler alemã prometeu diversas vezes nas últimas semanas apresentar um plano específico na cúpula, com prazos concretos, para tornar realidade a Constituição Européia.

AGENDA DE GOVERNO

- Jornada: Ampliação da jornada semanal de 35 para 39 horas, com isenção de encargos

- Greves: Restrições aos direitos de greve e obrigação de manter o transporte nos horários de pico

- Desempregados: Garantia de 90% do último salário, com obrigação de fazer curso de reciclagem e aceitar segunda vaga oferecida

- Funcionalismo: Preenchimento de apenas uma vaga a cada dois servidores que se aposentem

- Aposentadoria: Fim dos regimes especiais, aumento do tempo de contribuição

- Maioridade penal: Redução de 18 para 16 anos e fim de benefícios para reincidentes

- Imigração: Cotas anuais de imigração, com restrição da entrada de parentes de imigrantes

- Imposto: Rebaixar para 50% o teto da cobrança do IR.