Título: Uribe defende vice e ministro acusados de ligações com 'paras'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/05/2007, Internacional, p. A14
O presidente colombiano, Álvaro Uribe, defendeu ontem o vice-presidente do país, Francisco dos Santos, e o ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, das acusações feitas pelo ex-comandante paramilitar Salvatore Mancuso de vínculos entre eles e os grupos de extrema direita. O presidente também negou envolvimento no escândalo de gravações de conversas telefônicas entre membros da oposição e jornalistas, feitas pela polícia. ¿Acredito no valor moral do vice-presidente e dos meus colegas do governo¿, afirmou Uribe.
Mancuso, ex-chefe da organização Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), disse que os dois integrantes do governo (que são primos) se encontraram com ele em meados dos anos 90 para discutir acordos com o grupo paramilitar. Segundo Mancuso, o ministro da Defesa reuniu-se com ele e outros paramilitares duas vezes. As reuniões teriam como objetivo conspirar para afastar do poder o então presidente Ernesto Samper (1994-1998). O ministro admitiu ter-se reunido com membros das AUC, mas negou a acusação de conspiração contra Samper.
Mancuso afirmou também ter-se encontrado com o vice-presidente em quatro ocasiões diferentes. Segundo ele, em uma delas, Francisco Santos chegou a propor a criação de um pelotão paramilitar em Bogotá para conter ofensivas das guerrilhas de esquerda. Ontem, o vice-presidente pediu que a procuradoria-geral investigue a acusação contra ele e se colocou ¿à inteira disposição¿ para esclarecimentos.
Numa entrevista, Uribe disse que as reuniões de seus aliados com chefes das AUC não foram negadas e reafirmou sua confiança nos dois integrantes de seu governo.
Mancuso voltou ontem a prestar depoimento - parte do acordo de desmobilização e redução de penas para os paramilitares - e afirmou que, em 2002, os paramilitares fizeram alianças e acordos com políticos que permitiram a eleição de 35% do Congresso colombiano. Quase todos esses políticos pertencem à base de sustentação do governo Uribe no Legislativo. Mancuso também afirmou que a empresa de bebidas Postobon e a cervejaria Bavária estavam entre as principais financiadoras dos paramilitares.
Desde o ano passado, o Supremo Tribunal investiga os vínculos de políticos com os ¿paras¿. Em meio ao escândalo, a chanceler María Consuelo Araújo renunciou em fevereiro após a prisão do irmão dela, senador Álvaro Araújo, sob a acusação de ter recebido financiamento de campanha das AUC.