Título: BC compra US$ 2 bi, mas avaliação da S&P derruba dólar
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/05/2007, Economia, p. B1

A agência de classificação de risco Standard & Poor's melhorou ontem a nota do Brasil e contribuiu para mais uma forte queda do dólar. A moeda americana recuou 1,46%, para R$ 1,953. Em termos porcentuais, a desvalorização foi a maior em 11 meses. Segundo analistas, o real só não subiu mais por causa do Banco Central (BC), que comprou cerca de US$ 2 bilhões em intervenções nos mercados à vista e futuro de câmbio.

A onda positiva também chegou à Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que fechou em novo nível recorde, aos 51.737 pontos, alta de 2,41%. O risco Brasil encerrou o dia em 147 pontos, bem perto da mínima histórica, de 146 pontos.

A pressão pela valorização do real é tamanha que no mercado financeiro ninguém se arrisca a cravar uma projeção para o dólar nos próximos meses. Indagado sobre o assunto, Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Banco ABN Amro Real para a América Latina e ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, dá uma gargalhada antes de responder. 'Seria um sujeito infinitamente rico se soubesse', brinca. 'O que se pode dizer é que há fundamentos que permitem que o câmbio possa ir ainda mais para baixo.'

Entre esses fundamentos, Schwartsman destaca o bom desempenho das contas externas e a redução das taxas de juros pagas pelo Brasil no exterior - seja pelo governo ou por empresas. 'Nos últimos 12 meses, a balança comercial acumula superávit de US$ 47 bilhões. Os sinais que temos hoje apontam que, se houver alguma desaceleração, não será relevante', observou. Segundo ele, a queda dos juros para o Brasil lá fora estimula a captação de recursos. Esse dinheiro é trazido para o País, o que ajuda a valorizar a moeda brasileira.

No fim do ano passado, a Santander Asset Management surpreendeu parte do mercado ao projetar o dólar a R$ 1,90 no primeiro semestre deste ano - naquele momento, a moeda americana oscilava entre R$ 2,15 e R$ 2,20. Agora, a instituição também prefere a cautela ao falar da perspectiva para a moeda.

' (A trajetória) vai depender do governo', afirmou o diretor-executivo, Walter Appel. Para ele, se o padrão de intervenção do BC no mercado de câmbio dos últimos dias se mantiver, a moeda caminhará para R$ 1,80 nos 'próximos meses'. Assim como Schwartsman, Appel credita grande parte da alta do real ao desempenho do comércio exterior. 'A balança está surpreendentemente robusta.'

Dalton Gardiman, economista-chefe do banco Credit Lyonnais, está revendo para baixo sua projeção para a moeda americana, atualmente em R$ 2. O novo valor, porém, ainda não foi estabelecido. 'Até agora, todos os pisos que imaginávamos para o dólar, R$ 2,90, R$ 2,50, R$ 2,30 etc., se provaram de palha, não de concreto', afirmou.

'Às vezes, no Brasil, não dimensionamos o contexto, mas o fato é que se trata de um processo global (de desvalorização do dólar), que aqui tem sido um pouco mais intenso.' Segundo Gardiman, do fim de fevereiro para cá, o peso chileno, por exemplo, ganhou 6% ante o dólar, porcentual semelhante ao do real.

RESERVAS

A maioria dos analistas acredita que a tendência para o dólar dependerá do apetite do BC para acumular reservas daqui para frente. Para Gardiman, os custos elevados devem impor um limite ao BC em breve. 'Somente neste ano, o custo de acumulação de reservas equivale a dois programas Bolsa Família.'

Schwartsman e Appel discordam. Eles não vêem limites para a acumulação. Ainda assim, avisam que o BC não tem como alterar a trajetória do dólar, apenas suavizá-la. 'Uma maior abertura da economia teria mais impacto', analisou Appel.