Título: No mercado financeiro, estrangeiro é quem mais lucra
Autor: Carranca, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/05/2007, Economia, p. B4

Os investidores estrangeiros que aplicaram seus recursos no mercado brasileiro estão rindo à toa com a queda do dólar. Enquanto muitos empresários reclamam dos efeitos da desvalorização da moeda americana e da suposta perda de competitividade, esses investidores do mercado financeiro não têm motivos para choramingar. Isso porque além da variação do dólar, eles também ganham uma taxa de juros bastante atraente ou variação do mercado acionário.

Numa conta simples, um investidor que aplicou US$ 100 mil em renda fixa no mercado brasileiro em dezembro de 2006, quando a taxa estava em R$ 2,13, e vendeu hoje, com câmbio em R$ 1,95, ganhou em torno de US$ 10 mil. Nesse valor, estão incluídos a variação cambial do período e o diferencial de juros - calculado entre a taxa americana e a brasileira -, explica o gerente de câmbio da Corretora Souza Barros, Vanderlei Arruda. Segundo ele, se o investidor optou pelo mercado acionário, o lucro foi ainda maior, dependendo do setor escolhido. Para ter uma idéia, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) subiu 16,33% em 2007. 'Nesse caso, o estrangeiro ganhou a variação do câmbio e a variação do preço da ação.'

O sócio-diretor do Banco Modal, Eduardo Cotrim, explica que entre esses investidores estão grandes fundos de investimentos e tesourarias de banco internacionais, que fazem operações no mercado de moedas do mundo inteiro. São os chamados 'vendidos', que pegam dinheiro a um custo baixo nos Estados Unidos, por exemplo, cuja taxa está em 5,25%, e aplicam em outras moedas, explica Cotrim.

'Com o lucro obtido no Brasil e em outros países emergentes, eles pagam o empréstimo e ainda embolsam quantias extremamente vantajosas.' Os investidores com posições vendidas em dólar apostam na tendência declinante da moeda.

Na outra ponta, está aquele investidor que é chamado pelo mercado financeiro de 'comprado'. Ele só vai ganhar se o dólar subir. Cotrim explica que hoje quem está nessa situação é o Banco Central (BC), cujo volume de reservas é da ordem de US$ 120 bilhões, além de outros ativos em dólar, em torno de US$ 20 bilhões. 'O Tesouro brasileiro é credor em dólar. Portanto, se a moeda americana cair, ele perde dinheiro. Se subir, ele ganha.'