Título: Efeito nos preços não é imediato
Autor: Carranca, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/05/2007, Economia, p. B4

A variação cambial vem tendo reflexos no bolso do consumidor nos últimos três anos, desde que o dólar começou a cair. Já a cotação de ontem, quando chegou a R$ 1,95, só será percebida dentro de três meses, em média. Isso porque o preço final dos importados é, em geral, definido no fechamento do pedido e os produtos só são remarcados quando as novas remessas chegam às gôndolas dos supermercados e às lojas. O repasse, no entanto, depende de outras variáveis e pode não ser feito.

'Nossos preços não dependem apenas da taxa de câmbio, mas da produção', diz o economista Flávio Godas, da Ceagesp. Com a queda da produção de salmão, no Chile, o preço do pescado no mercado internacional subiu, mas foi compensado com a queda do dólar. Para o consumidor, ficou tudo igual: R$ 12 a R$ 15 o quilo.

Com a valorização da farinha de trigo no mercado internacional, derivados como biscoitos e macarrão terão os preços mantidos, segundo a Associação Paulista de Supermercados (APAS). 'Já azeites, vinhos e especiarias, que já vinham com boas ofertas, devem ter nova redução de 10%, com a queda do dólar', diz o vice-presidente da APAS, Martinho Paiva Moreira. 'Isso, daqui a três meses, tempo para que os produtos comprados hoje, com o dólar baixo, cheguem às prateleiras.'

Vinhos do Chile e Argentina seguem com preços melhores frente aos americanos, graças ao transporte mais barato e acordos bilaterais com o Brasil. 'E essa concorrência já faz com que produtores europeus reduzam o preço', diz Jorge da Conceição Lopes, diretor da Casa Santa Luzia com 1.300 rótulos.

Eletroeletrônicos, que já foram remarcados (34,4% nos aparelhos de DVD e 29,5% nos televisores em dois anos, segundo a Fipe) devem cair mais. 'Com a maturação do processo econômico e essa tendência da baixa do dólar, teremos mais importações. Com mais oferta e concorrência ante os produtos nacionais, a expectativa é de que a redução nos preços de bens duráveis seja, a longo prazo, ainda maior do que a variação do dólar', avalia Celina Martins Ramalho, do Conselho Regional de Economia.