Título: Bagres que fizeram alegria hoje tiram Lula do sério
Autor: Domingos, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/05/2007, Nacional, p. A12
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva gaba-se de ser um ótimo pescador de jaú. Disse, durante café da manhã com jornalistas, em 22 de dezembro, que já pegou um de mais de 50 quilos. Em tupi-guarani, jaú quer dizer 'boca grande', 'grande bagre comedor'. Se o bagre jaú faz a felicidade do pescador Lula, dois outros tipos de bagres, a dourada e a piramutaba, trazem a infelicidade e tiram o sono do presidente. E ameaçam a licença ambiental para a usinas do Rio Madeira.
O parecer dos técnicos do Ibama que rejeitou a licença ambiental prévia para as hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio tem 10 páginas dedicadas só aos 'grandes bagres' dourada (brachyplatystoma rousseauxii) e piramutaba (brachyplatystoma vailanti) e a outros menores. Diz o relatório que as duas espécies maiores empreendem migrações microrregionais, estando entre as maiores conhecidas para peixes de água doce no mundo.
Ainda conforme o parecer, as duas espécies necessitam utilizar diferentes áreas da Bacia Amazônica para completar seu ciclo de vida. As formas juvenis se desenvolvem no estuário do Rio Amazonas, onde ficam de dois a três anos alimentando-se até atingir cerca de 40 centímetros de comprimento. A partir daí, iniciam sua migração de mais de 3 mil quilômetros rumo às cabeceiras dos rios que nascem na Cordilheira dos Andes, já na Bolívia e no Peru, onde desovam. As usinas atrapalhariam a passagem deles para a reprodução, rio acima. Por isso, é preciso encontrar um jeito de lhes dar passagem.
Além das informações referentes à dourada e à piramutaba, o parecer cita ainda outras espécies de bagres que vivem na região, todos com importância comercial, entre eles o babão, filhote, surubim, caparari, pirarara, piraíba, barba-chata, barbado e, claro, o jaú do presidente Lula.