Título: Ensino infantil gera renda maior
Autor: Iwasso, Simone e Portella, Andrea
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/05/2007, Vida&, p. A23

Pessoas que fizeram o ensino infantil ou começaram a estudar entre os 4 e 6 anos de idade têm, em média, renda 27% maior do que quem entrou na escola apenas aos 7 anos - isso descontados todos os outros fatores que podem influenciar no resultado, como classe social e escolaridade dos pais. Além disso, esses alunos têm notas mais altas nos exames nacionais, maior probabilidade de concluir o ensino médio e entrar no ensino superior.

Os resultados aparecem numa pesquisa inédita feita pelo Ibmec São Paulo e pela Tendências Consultoria. É um dos primeiros estudos brasileiros que conseguem demonstrar, numericamente, a importância e influência futura do ingresso no ensino infantil - já bastante defendido por especialistas e com oferta ainda muito restrita no País.

'Há trabalhos internacionais que mostram essa influência da pré-escola no desempenho do aluno. Queríamos saber se aqui no Brasil isso também acontecia na prática, e vimos que sim', explica Andréa Zaitune Curi, uma das responsáveis pelo trabalho. O cruzamento foi feito com base nos dados da Pesquisa de Padrão de Vida, do IBGE, e dos resultados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), aplicado pelo Ministério da Educação.

Além do impacto sobre os salários, a pesquisa revela que as pessoas com idade entre 21 e 65 anos que freqüentaram a pré-escola têm maior escolaridade do que aquelas que começaram a estudar somente a partir da 1ª série. O impacto da pré-escola é de um aumento de 4% na probabilidade de conclusão da 4ª série, 18% na 8ª série, 23% no ensino médio e 5% na faculdade, totalizando 1,5 ano de estudo a mais do que quem ingressou na escola na 1ª série. Já o impacto da creche, que abrange alunos até os 3 anos de idade, é maior na probabilidade de conclusão do nível superior, mas faz pouca diferença na vida profissional.

APROVEITAMENTO

O levantamento também verifica o aproveitamento escolar dos que cursaram a pré-escola. O desempenho nos exames de proficiência do Saeb dos alunos da 4ª série que iniciaram os estudos na pré-escola é 7% melhor, em média, do que o daqueles que começaram a estudar na 1ª série.

'Por cálculos econométricos, conseguimos descontar outros fatores que podem contribuir para o desempenho do aluno, como renda e escolaridade dos pais e a região onde ele vive', explica Naércio Menezes, do Ibmec e da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP). 'O cruzamento de dados pode ser um elemento a mais na discussão sobre a oferta de ensino infantil no Brasil', afirma.

Atualmente, segundo dados do Inep, órgão do Ministério da Educação, 7,2 milhões de crianças de até 6 anos estão matriculadas em instituições particulares e públicas no País. Desse total, 5,2 milhões estão na educação infantil, que engloba o período de 4 a 6 anos e deve começar a preparar a criança para a alfabetização. Na prática, isso quer dizer que só 13% das crianças brasileiras têm acesso à creche, segundo dados do IBGE. Na faixa de 4 a 6 anos, o índice fica em torno de 70%.