Título: Sul volta a ser o eldorado agrícola
Autor: De Chiara, Márcia
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/05/2007, Economia, p. B4
A saga dos agricultores do Sul de comprar terras baratas no Centro-Oeste para ampliar o cultivo de grãos está temporariamente interrompida. Os elevados custos de produção, especialmente do frete, reduziram a rentabilidade das lavouras da região por causa do cotação do dólar abaixo de R$ 2.
Em contrapartida, os bons resultados obtidos no Sul fizeram com que esses mesmos produtores centrassem fogo nos investimentos em suas fazendas localizadas em regiões tradicionais de produção de grãos, como o norte do Paraná.
'Fui para Guaraí, no norte do Estado de Tocantins, em 2004 atrás de terras baratas', conta o produtor rural paranaense, Carlos Roberto Pupin, de 52 anos, dos quais 30 dedicados à agricultura.
Ele viu no Tocantins uma grande oportunidade para ampliar o seu negócio. 'Sobrava energia elétrica no Estado, a ferrovia Norte-Sul estava sendo construída e a área ficava a mil quilômetros do Porto de Itaqui.' Na época, diz ele, conclui que o Tocantins seria uma região de futuro. Em 2004, pagou cerca de R$ 3 mil por hectare, o equivalente a um quinto do valor da terra no norte do Paraná.
Pupin, que já tinha 2 mil hectares em Maringá, norte do Paraná, onde cultiva até hoje soja e milho, comprou 10 mil hectares em Tocantins e abriu metade da área para plantar soja, milho e arroz. Os anos de 2004 e 2005 ainda foram bons. Ele colocou calcário na terra e chegou a comprar dois tratores. Mas a situação começou a se complicar com a valorização do real.
'Com o dólar abaixo de R$ 2,30, fica inviável produzir no Centro-Oeste', afirma o produtor, ressaltando que a falta de infra-estrutura veio à tona. Nas suas contas, a rentabilidade da soja no Tocantins, incluídas as despesas com frete, ficou, nesta safra, em torno de 5% do preço do produto, que nunca esteve em níveis tão elevados em dólar. Já na região de Maringá esse índice sobe para 15%.
'Hoje não faço investimentos no Centro-Oeste e tive de pegar empréstimo no banco. Agora estou em compasso de espera.' Pupin diz que aguarda até agosto para definir se vai plantar grãos na próxima safra. 'Partir para a pecuária passou pela minha cabeça, mas a grande expectativa é a cana.' O produtor chegou até a colocar as terras à venda, mas não obteve propostas de compra.
A história se repete com o agricultor Osmar Benedito de Oliveira, de 64 anos. De família de agricultores do Paraná, ele conta que decidiu ir para Goiás em 1985. O preço baixo da terra na região foi uma oportunidade para expandir a produção.
Ele adquiriu 6 mil hectares em Jataí, no Sul de Goiás, para plantar milho, soja, sorgo e girassol. Mas manteve a área de 780 hectares em Igaraçu, no norte do Paraná, para produzir soja e milho.
'Este foi um do piores anos do Centro-Oeste em termos de rentabilidade', diz Oliveira, que está há 22 anos na região. Segundo ele, o que pesou muito foi a despesa com o frete e o dólar. 'Estamos trabalhando para pagar a despesa.' Para a safra 2008/2009, ele pretende destinar 1,5 mil hectares para o plantio da cana-de-açúcar. Investimentos no Centro-Oeste, nem pensar.
Os dois agricultores vivem uma realidade completamente diferente no Paraná. Perto do Porto de Paranaguá, com infra-estrutura melhor que a do Centro-Oeste e condições mais favoráveis de negociação de insumos e produto, Pupin diz que o Estado vai se consolidar como o grande produtor de grãos e cana-de-açúcar.
'O céu está em Maringá', compara Pupin, com os resultados obtidos em Tocantins. Ele diz que, neste ano, comprou quatro colheitadeiras e dois tratores zero-quilômetro com os resultados alcançados na região. 'Não vou tirar dinheiro do Paraná para investir no Tocantins. O negócio lá tem de, no mínimo, se pagar.'