Título: Mercado derruba os juros. Só falta o Banco Central
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/05/2007, Economia, p. B14
Os juros reais brasileiros determinados no mercado já iniciaram um processo de queda acentuada, que pode levar a uma redução mais acelerada nos próximos meses da Selic, a taxa básica fixada pelo Banco Central (BC). O principal referencial de juro de mercado, os chamados ¿swaps¿ de um ano, tiveram uma redução em suas taxas reais de 11%, em janeiro de 2006, para o nível atual de 7,2% (ver gráfico).
A taxa real desconta dos juros de um ano (que fecharam na sexta-feira em 10,95%) a inflação projetada para os próximos 12 meses. O swap é a taxa nas transações entre bancos e grandes empresas e investidores, e por isso é o mais baixo dos juros de mercado, acima do qual todos os outros se movem.
O juro real do swap de 360 dias em quase 7% é algo inédito no período posterior ao Plano Real. Desde que a hiperinflação foi debelada em 1994, o juro real brasileiro de mercado permaneceu quase o tempo todo acima de 10%. Ficou um longo período acima de 12%, chegou a atingir picos acima de 20%, e apenas em raros e rápidos momentos aproximou-se de 9%.
¿O mercado antecipa as tendências, e a minha sensação é de que o Brasil já está vivendo como se tivesse o `grau de investimento¿, o que explica essa despencada do juro real¿, diz Armando Castelar, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O grau de investimento é o nível de classificação dos países, pelas agências internacionais de rating , a partir do qual eles não são mais considerados de risco especulativo. Nas últimas semanas, em meio à euforia que tomou conta da Bovespa e à avalanche de dólares que criou uma pressão irresistível de valorização do real, duas agências de rating, a Fitch e a Standard & Poor¿s, promoveram a classificação brasileira para um degrau apenas abaixo do grau de investimento.
Castelar explica que países como o México e a Polônia experimentaram fortes acelerações na queda do juro real à medida que a conquista do grau de investimento se tornava iminente. ¿Não é um processo linear, começa caindo muito pouco e de repente cai muito rápido.¿
O ritmo de queda dos juros reais de mercado no Brasil pegou a maior parte dos analistas de surpresa, e deixou o BC numa situação difícil. Agora, o Comitê de Política Monetária (Copom) terá de decidir se sanciona ou não, por meio de cortes mais acelerados da Selic, a onda de otimismo que tomou conta do mercado financeiro.
Se o BC mantiver o ritmo de cortes de apenas 0,25 ponto porcentual na próxima reunião do Copom, nos dias 5 e 6 de junho, isso deve funcionar como um freio à tendência de queda dos swaps. De outro lado, se o Copom determinar um corte de 0,50, ou até maior, o mercado verá o seu otimismo confirmado, e deve prosseguir na derrubada das taxas do swap.
SITUAÇÃO COMPLICADA
O dilema do BC também está ligado à avassaladora tendência de valorização do real. Os investidores externos percebem os juros brasileiros - cuja trajetória de queda ainda está contida pela Selic, que está no alto nível de 12,50% ao ano - como elevados demais para os riscos e a inflação do País. Com isso, vêm aplicando bilhões de dólares em títulos do governo brasileiro, o que reforça o fluxo já forte de divisas vindas do comércio exterior, das aplicações dirigidas à bolsa e dos investimentos diretos. Toda essa entrada de dólares pressiona para baixo a cotação da moeda americana.
O real valorizado dá suporte a uma eventual decisão do Copom de acelerar os cortes da Selic, já que a moeda forte facilita as importações que impedem a alta dos preços dos produtos fabricados no Brasil. É incerto se uma redução mais drástica da Selic conteria a valorização do real, mas seria no mínimo uma tentativa com efeitos colaterais agradáveis - afinal, juros mais baixos melhoram as contas públicas e a vida de empresas e consumidores.
De outro lado, a economia brasileira vem dando sinais de aquecimento que também estão surpreendendo os analistas e o mercado, como a alta de 11,5% nas vendas do varejo em março, na comparação com o mesmo mês de 2006. O BC, naturalmente, preocupa-se com um ritmo de aceleração econômica que possa trazer de volta a inflação. ¿É uma situação complicada, em que o equilíbrio externo diz que o juro tem de cair, e o equilíbrio interno diz que não pode cair muito¿, resume Beny Parnes, diretor-executivo do Banco BBM.