Título: Agências de rating esquecem as reformas e promovem o Brasil
Autor: Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/05/2007, Economia, p. B15

A ausência de reformas estruturais, como as da Previdência, trabalhista e tributária, não deverá impedir que o Brasil receba o chamado grau de investimento pelas agências de classificação de risco (rating). Até pouco tempo consideradas essenciais para que o País fosse elevado ao status de porto seguro para os investidores, as reformas perderam ênfase no discurso dessas agências. O grau de investimento permite que um país receba dinheiro de fundos de investimento que legalmente só podem aplicar em locais com esse perfil de risco, avaliado pelas agências de rating.

Mesmo sem movimentos relevantes do governo na direção das reformas, duas das três principais agências internacionais - Standard and Poor's (S&P) e Fitch - elevaram nas últimas semanas a nota do Brasil, colocando-o a um passo do grau de investimento, previsto pelos analistas para ocorrer entre 2008 e 2009. As justificativas foram a melhora nos indicadores externos, como o crescimento das reservas e a redução da dívida externa, e a diminuição da dívida pública e da despesa com juros em relação ao Produto Interno Bruto (PIB).

'As notas estão relacionadas à solvência (capacidade de pagamento de dívidas) do País. No Brasil, há algum tempo, os economistas, especialmente os vinculados à PUC-RJ, diziam que só ia melhorar a solvência com reformas, e isso acabou virando verdade. De repente, percebeu-se que a melhora aconteceu sem reformas, e quem está fazendo isso é o setor privado', disse o estrategista-chefe da Quest Investimentos e ex-diretor do Banco Central, Luiz Carlos Mendonça de Barros. 'As agências estavam atrasadas. O mercado é soberano, atropelou e passou na frente delas. O investment grade agora é questão de tempo.'

Embora avalie que as reformas acelerariam a chegada do Brasil ao grau de investimento, a analista de rating soberano da S&P, Lisa Schineller, admite que isso pode ocorrer independentemente das reformas. 'Com compromissos com políticas pragmáticas e a continuidade da melhora nos indicadores fiscais e externos, o Brasil pode chegar ao investment grade.'

Além de elevar a nota do Brasil para apenas um degrau abaixo do almejado BBB (que marca o acesso ao grau de investimento), a S&P manteve o Brasil em perspectiva positiva. Assim, nova elevação pode ocorrer a qualquer momento. Na última vez que a perspectiva ficou positiva, a melhora do rating ocorreu em seis meses, embora, em média, leve mais de um ano, segundo a S&P.

O cientista político da Tendências Consultoria Rogério Schimitt considera que a melhora na classificação de risco e o discurso das agências indicam 'que as reformas estruturais são menos importantes do que se pensava para a obtenção do grau de investimento, desde que compensadas pela gestão responsável da política macroeconômica e por uma agenda de reformas microeconômicas'.

O diretor-executivo da Fitch, Rafael Guedes, tenta enfatizar a necessidade das reformas para melhora na avaliação do Brasil e considera inferior a 50% a chance de o grau de investimento chegar antes de dois anos. Mas admite a possibilidade de ocorrer mesmo sem reformas. 'Se o vento está tão forte que faz o barco andar, mesmo com furos na vela, isso precisa ser levado em conta.'

O economista da Austin Rating Alex Agostini vê incoerência da S&P e da Fitch nas recentes melhoras do rating brasileiro. Para ele, que reconhece a melhora nos indicadores, as agências estão sucumbindo à pressão política do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que em março fez várias reuniões com as agências em Nova York.

'Antes da visita de Mantega, as agências tinham discurso mais duro. Não houve uma mudança significativa na economia de lá para cá e ainda há um risco que não poderia ser desprezado em torno da aprovação da CPMF e da Desvinculação das Receitas da União (DRU). Mesmo assim, as agências elevaram suas classificações sobre o Brasil', criticou Agostini, com especial ênfase para a decisão da S&P de manter a perspectiva positiva para o Brasil. 'A Fitch tomou uma decisão prematura e imprudente, mas ao deixar a perspectiva estável foi mais coerente que a S&P.'