Título: Na delegacia, a atriz no papel de psicóloga
Autor: Duran, Sérgio
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/05/2007, Metrópole, p. C1
Sem uma boa conversa, atividade na qual é notável, a atriz Rosa Gorbman passaria despercebida. A mesa simples, em um salão no prédio de fundos da 1ª Delegacia de Defesa da Mulher de São Paulo, no centro, é o que ela tem para desempenhar o novo papel ao qual se propôs: estagiária de psicologia. Aos 50 anos, ela cursa o último ano da faculdade.
¿Sempre quis trabalhar em Delegacia da Mulher¿, conta Rosa, que, entre outras produções do Grupo Tapa, atuou em Rastro Atrás (1995), de Jorge Andrade, dirigido por Eduardo Tolentino.
Na delegacia, ela não conta histórias, mas ouve muitas. Diz sentir vontade de levantar e aplaudir mulheres que após décadas de agressão decidem denunciar seus maridos. A decisão, geralmente, é precedida de uma conversa com a semiprofissional para levar a vítima a ter certeza do passo que dará.
¿A dependência emocional fala alto. É dura essa realidade do príncipe que virou sapo¿, considera Rosa, que mantém união estável de 27 anos com o ator Zécarlos Machado, conhecido no teatro e pelas novelas de Manoel Carlos.
¿A mulher agredida tem medo do desconhecido. Ela sabe que sobrevive às agressões. Aquela realidade é bem conhecida dela. Mas e o que vem depois da separação?¿, analisa.
O departamento onde a atriz trabalha ainda não foi totalmente estabelecido. Já existiu no passado, porém acabou desativado. A delegada-titular Celi Paulino Carvalho aposta na reativação do trabalho das psicólogas não apenas para humanizar as delegacias, mas também para tentar cuidar das famílias.
¿Em muitos casos, é possível reverter até a separação. Tratar da violência doméstica é uma forma de prevenir a violência das ruas¿, considera a delegada. A atriz é mais comedida nas análises. ¿Sei apenas que nenhuma mulher quer estar aqui. Para algumas, é uma espécie de atestado de incompetência de cuidar da própria vida, de dar conta dos obstáculos¿, diz Rosa.